NATAL CAIPIRA

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

NATAL CAIPIRA

Lá no campo, o Natal chega de mansinho, como quem não quer alarde, mas traz consigo aquele cheiro de terra molhada e o frescor da noite estrelada. 

O pinheiro enfeitado? 

Ah, aqui ele é substituído por um galho de goiabeira, todo adornado com algodão que imita neve e fitas coloridas que a dona Francisca guardou do Natal passado. 

No topo, em vez da estrela de Belém, brilha uma ponta dourada de papel laminado que o compadre Joaquim encontrou na vendinha do Seu Zé.

As preparações começam cedo, com a comadre Maria amassando o pão caseiro, que vai perfumando a cozinha com um aroma doce de afeto. 

O peru é substituído por um frango gordo, criado no quintal, temperado com alho, cheiro-verde e aquele toque especial de amor que só o povo da roça sabe dar. 

Na sobremesa, um doce de leite tão cremoso que parece até pecado, acompanhado de fatias de queijo fresquinho, feito no dia anterior.

A missa do galo é o ponto alto da noite. 

Todo mundo se arruma com suas melhores roupas, e a pequena capela da vila ganha vida com vozes afinadas entoando cânticos natalinos. 

Não há coral profissional, mas há fé, e isso enche o coração de todos. 

O padre fala da simplicidade do nascimento de Jesus e compara o presépio de Belém com a própria roça, onde a vida brota do chão e as mãos são calejadas de trabalho honesto.

De volta para casa, a noite continua com roda de viola. 

O som da moda caipira ecoa pelos campos, misturando-se ao som dos grilos e do vento que balança as folhas. Cada verso é um presente, e cada riso, uma bênção. 

O Natal caipira não tem luxo, mas tem uma riqueza que dinheiro nenhum compra: união, simplicidade e amor genuíno.

No final da noite, enquanto as crianças cochilam no colo das mães, os adultos olham para o céu estrelado e agradecem. 

O brilho das estrelas parece refletir o brilho nos olhos de quem compreendeu que o verdadeiro espírito de Natal não está nos presentes, mas na presença. 

É na roça, entre a poeira e o verde, que o Natal revela sua face mais pura e verdadeira.

E assim, entre moda caipira e pão de queijo, termina mais um Natal caipira, onde a simplicidade é a maior celebração.

CAIPIRA CHRISTMAS

Out in the countryside, Christmas arrives quietly, like a gentle breeze, carrying the earthy scent of rain and the coolness of a starry night. 

The traditional Christmas tree? Here, it’s replaced by a guava branch, adorned with cotton to mimic snow and colorful ribbons that Dona Francisca carefully saved from last year. 

At the top, instead of the Star of Bethlehem, there shines a golden tip made from foil paper that Compadre Joaquim picked up at Seu Zé’s little store.

Preparations begin early, with Comadre Maria kneading homemade bread, filling the kitchen with the sweet aroma of affection. 

The turkey is replaced by a plump chicken raised in the backyard, seasoned with garlic, fresh herbs, and that special touch of love that only country folks know how to give. 

For dessert, there’s creamy dulce de leche paired with slices of fresh cheese made just the day before.

The midnight mass is the highlight of the evening. 

Everyone dresses in their finest clothes, and the small village chapel comes alive with heartfelt voices singing Christmas hymns. 

There’s no professional choir, but there’s plenty of faith, and that fills every heart. 

The priest speaks of the simplicity of Jesus’ birth, comparing the manger in Bethlehem to the countryside itself, where life springs from the earth and hands are calloused from honest labor.

Back home, the night continues with a circle of violas. 

The sound of country music drifts through the fields, blending with the chirping of crickets and the whisper of the wind rustling the leaves. 

Each verse feels like a gift, and every laugh, a blessing. 

A Caipira Christmas may lack luxury, but it holds a wealth that money can’t buy: unity, simplicity, and genuine love.

As the night wanes, children doze off in their mothers’ laps while the adults gaze at the starry sky in gratitude. 

The sparkle of the stars mirrors the glow in the eyes of those who understand that the true spirit of Christmas isn’t found in gifts but in togetherness. 

It’s in the countryside, amidst the dust and greenery, that Christmas reveals its purest and truest face.

And so, with songs, laughter, and a piece of warm pão de queijo, another Caipira Christmas comes to a close—where simplicity is the grandest celebration of all.

COMPARTILHE
Facebook
WhatsApp
X

CRÔNIAS DO VIOLA

No posts found.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fale Conosco!
Rolar para cima