Olá caipirada de plantão eu sou o André Viola!

Minha jornada com a música de Tião Carreiro e Pardinho é longa, e nela cabem décadas de rádio e de dedicação à música caipira. Em mais de 40 anos de estrada, sempre que a programação das rádios onde trabalhei se abria para a viola, eu fazia questão de incluir o legado de Tião e Pardinho, um som que trouxe a verdadeira alma do sertão para o rádio e, sem dúvida, para os corações dos ouvintes.

Em 1993, quando Tião Carreiro nos deixou, eu estava na Paranaíba FM em Uberlândia. Naquela manhã, a cidade acordou com a triste notícia e, logo cedo, iniciei um especial em sua homenagem, recordando suas canções e relembrando momentos que ele eternizou na música caipira. Pouco depois, em Goiânia, mantive viva a tradição, levando os sucessos da dupla para novas audiências, reforçando o vínculo entre o rádio e a cultura caipira.

Foi em 2005, na Rádio América de Uberlândia, que preparei um especial de mais de duas horas, que alcançou uma audiência impressionante. Tamanha foi a repercussão que muitos ouvintes queriam uma cópia daquele programa. Tudo foi ao vivo, mas senti que era o momento de ir além: produzi um CD contando a história de Tião Carreiro, cheio de músicas e histórias que tocaram fundo. Esse material foi distribuído para vários ouvintes, e a resposta foi emocionante.

Com a criação da Viola Viva em 2007, levei essa homenagem a outro patamar. O especial “Tião Carreiro e Parceiros” foi ao ar durante 24 horas, um marco sem precedentes que ecoou em cada nota, em cada verso, e trouxe a trajetória desse grande mestre da viola para um público fiel e apaixonado. Esse especial se repetiu por anos e se tornou um símbolo da conexão do Viola Viva com a essência da música caipira.

Hoje, sigo com o mesmo propósito, dedicando meu trabalho à memória de Tião Carreiro e à preservação de nossa cultura. Sou André Viola, idealizador do portal oficial da música caipira, a primeira rádio brasileira a manter uma programação caipira 24 horas, e ainda com uma qualidade artística que poucas emissoras conseguem preservar. O Viola Viva é mais do que um veículo de transmissão; é um tributo contínuo à cultura caipira, um farol que ilumina a nossa história e leva o melhor da música de raiz a todas as gerações.

Com orgulho, dedico esse trabalho ao mestre Tião Carreiro e a todos que amam a viola e a cultura caipira, para que saibam que aqui têm um espaço dedicado, autêntico e eterno.

José Dias Nunes

José Dias Nunes, eternizado como Tião Carreiro, nasceu em Monte Azul, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1934, e construiu uma trajetória que revolucionou a música sertaneja. Ainda criança, ele e seus irmãos não possuíam registros de nascimento, e a família precisou aguardar autorização do juizado de menores por três dias para poder seguir viagem para Paulópolis, em São Paulo. Pouco depois, Tião enfrentou a perda de seu pai, um golpe duro para o jovem violeiro em formação.

Em busca de um novo lar, a família se mudou para Flórida Paulista, onde morava a avó materna, Dona Porcidonia. Anos depois, seguiram para Valparaíso, onde Tião, apesar das dificuldades, recebeu algo que transformaria sua vida: sua primeira viola. Desde pequeno, o menino José já demonstrava inclinação musical, tocando notas imaginárias no cabo da enxada e fazendo melodias com elásticos esticados em pedaços de madeira. Embora nunca tivesse frequentado a escola, aprendeu a ler e escrever de forma autodidata, juntando palavras em jornais velhos. Sua curiosidade e determinação o levaram a se alfabetizar e a desenvolver, por conta própria, o domínio da viola.

Aos 16 anos, já dominado pela paixão pela música, deixou o trabalho no campo para trilhar um novo caminho. Ele se apresentou em bares e no programa de rádio “Assim canta o sertão”, em Valparaíso, SP, e também fez várias parcerias musicais. No circo Giglio, ele e o primo Valdomiro se apresentavam como “Zezinho e Lenço Verde,” e ele também formou outras duplas sob nomes variados. Contudo, o conselho de um proprietário de circo o marcou: uma dupla sertaneja precisava de viola, não apenas de violão.

Durante uma apresentação de Tonico e Tinoco em Araçatuba, Tião aproveitou a ausência de Tinoco para estudar a viola da dupla, memorizando a afinação e se dedicando a esse instrumento que moldaria sua carreira. Logo, ganhou uma viola própria, pintada especialmente por um artista local, e passou a se inspirar em Florêncio, um dos violeiros mais influentes da época.

Em 1953, conheceu Dona Nair Avanço, com quem se casou após 14 meses de namoro e com quem teve sua única filha, Alex Marli Dias. Em seguida, conheceu Pardinho, seu companheiro musical mais célebre, e juntos formaram a dupla “Zé Mineiro e Pardinho”. Em 1956, mudaram-se para São Paulo e foram apresentados a Teddy Vieira, que o renomeou “Tião Carreiro”. Juntos, Tião e Pardinho lançaram o primeiro disco, gravando “Boiadeiro punho de aço” e “Cavaleiros de Bom Jesus,” composições de Vieira.

Em 1959, Tião criou um novo estilo: o pagode de viola, uma fusão de ritmos que consolidou sua fama e deu origem a uma sequência de gravações que encantariam o Brasil. “Pagode em Brasília,” uma das canções mais marcantes do novo estilo, exaltava a capital recém-inaugurada e se tornou um sucesso imediato. Com sua batida única, Tião produziu uma série de introduções e arranjos que transformaram o pagode de viola em um estilo inconfundível, influenciando gerações e conquistando o público com músicas como moda de viola, cururu, cateretê, e até mesmo tango.

A música sertaneja se expandiu e ganhou o cenário urbano, e Tião acompanhou essa transformação, incorporando novos estilos como guarânias e rasqueados. Seu estilo de cantar em dupla, com a segunda voz em destaque, foi seguido por várias duplas e se tornou um marco na música sertaneja.

Ao longo de sua carreira, Tião Carreiro lançou mais de 50 LPs e 300 canções, colaborando com grandes nomes da música sertaneja e ajudando a levar a viola caipira ao público em geral. Seu trabalho não se limitou aos discos e programas de rádio: Tião levou a música sertaneja aos rodeios, exposições, e até à televisão, popularizando o gênero e abrindo caminho para novas gerações. Mesmo sem perceber a total dimensão de seu legado, Tião Carreiro conquistou algo raro: a imortalidade musical. Em 15 de outubro de 1993, o mestre nos deixou, mas seu talento permanece vivo em cada nota e verso de sua obra. Salve Tião Carreiro, eterno ícone da nossa música!

Antônio Henrique de Lima

Pardinho nasceu em São Carlos, na Fazenda São Joaquim, e mais tarde mudou-se para a Fazenda Figueira Branca. “Na época da colheita do café havia muita festa, e foi na fazenda Figueira Branca que meu pai ganhou um cavaquinho, com cerca de 12 anos,” recorda Carlos Henrique, seu filho.

Antonio Henrique iniciou sua carreira artística cantando sob o nome de Miranda e formou, em 1956, uma dupla com Zé Carreiro (da dupla Zé Carreiro & Carreirinho) para participar de um concurso de violeiros promovido pela Rádio Tupi. A dupla venceu com o cururu “Canoeiro”. A partir de então, Antonio adotou o nome artístico de Pardinho e começou a compor seus próprios sucessos. Seu talento brilhou ao lado de Tião Carreiro na famosa dupla Tião Carreiro & Pardinho, cuja discografia soma mais de 45 álbuns, facilmente encontrados em lojas de discos em todo o Brasil. Pardinho também colaborou com outros parceiros, como Zé Carreiro, Peão Carreiro, João Mulato e Pardal, com quem gravou sete discos, incluindo o álbum “4 Azes”, que contou também com Tião Carreiro e Paraíso. Entre suas músicas de destaque está a trilogia do “Menino da Tábua,” que narra a vida de um menino que vivia sobre uma tábua e se alimentava apenas de leite e água, e suas ações milagrosas após a morte. Pardinho e Pardal também gravaram “O Poder da Viola,” a história de uma menina que sobreviveu a várias picadas de aranha graças à bênção ao som da viola. A dupla também lançou a canção “Sertão do Virador,” escrita por Zé Fortuna e Pitangueira, rebatizada de “O Poder da Fé” no álbum O Poder da Viola (1980).

Embora tenha saído de São Carlos ainda jovem, por volta dos 13 ou 14 anos, Pardinho sempre retornava à cidade no dia 15 de agosto para homenagear sua devoção a Nossa Senhora Aparecida da Babilônia. Em janeiro de 1963, casou-se com Lucília Pires de Lima, e o casal passou a lua de mel no município. Juntos, tiveram dois filhos, Carlos Henrique e Rosângela Aparecida de Lima, e duas netas, Lívia e Daniele de Lima.

Pardinho foi internado no Hospital Leonor Mendes de Barros, em Sorocaba, devido a hipertensão e sofreu um derrame cerebral. Poucos dias depois, entrou em coma, teve morte cerebral decretada e faleceu em decorrência de uma parada respiratória. Seu sepultamento ocorreu em Piedade, São Paulo.

Tião Carreiro e Pardinho

Tião Carreiro & Pardinho foi uma dupla icônica da música sertaneja brasileira, reconhecida por popularizar a moda de viola e criar o pagode de viola, uma variação do cateretê. Composta por José Dias Nunes (Tião Carreiro), responsável pelos solos na viola caipira e pela voz grave, e Antônio Henrique de Lima (Pardinho), que trazia a base rítmica no violão ou na viola e a voz aguda, a dupla inovou ao colocar em destaque a voz grave de Tião Carreiro, que assumiu a primeira voz na maioria das canções—um feito incomum na música sertaneja da época.

A carreira da dupla se estendeu em dois períodos, de 1954 a 1978 e de 1981 a 1993, e eles foram essenciais na difusão da música sertaneja, levando-a dos programas sertanejos das madrugadas nas rádios até o horário nobre da televisão, além de apresentações em teatros, rodeios e exposições.

História
A trajetória da dupla começou em 1954, quando Tião Carreiro, ainda conhecido como Zé Mineiro, conheceu Pardinho no Circo Rapa Rapa, em Pirajuí. Em 1956, decidiram tentar a sorte em São Paulo, onde conheceram o renomado compositor sertanejo Teddy Vieira, que batizou José Dias Nunes de “Tião Carreiro”. No mesmo ano, gravaram seu primeiro disco juntos, que trazia as faixas “Cavaleiro do Bom Jesus” (de João Alves, Nhô Silva e Teddy Vieira) e “Boiadeiro Punho de Aço” (de Teddy Vieira e Pereira).

Tião Carreiro e Pardinho são considerados pioneiros no sertanejo de raiz e são creditados como criadores do pagode de viola. Além da música, a dupla atuou em peças teatrais, como O Mineiro e o Italiano, um melodrama baseado em uma de suas canções, e Pai João, que conta o drama de um velho carreiro. Também estrelaram o filme Sertão em Festa, que foi um sucesso de público. Ao longo de sua carreira, a dupla gravou cerca de 30 LPs, todos posteriormente remasterizados em CD, permanecendo disponíveis até hoje.

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