UM SIMPLES ENCONTRO COM A VIOLA

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

UM SIMPLES ENCONTRO COM A VIOLA

Naquela manhã de céu limpo, o cheiro da terra molhada ainda pairava no ar, lembrança da chuva que acariciara o chão na noite anterior. 

O pequeno vilarejo parecia adormecido, exceto pelo som que vinha da varanda da casa de madeira ao lado do riacho. 

Era um som familiar, como uma conversa entre velhos amigos: o dedilhar da viola.

Seu Joaquim, um senhor de mãos calejadas pela lida na roça, afinava as cordas de sua companheira de longa data. 

A viola tinha marcas do tempo, mas sua alma permanecia intacta. Cada nota que ele arrancava parecia trazer à tona histórias vividas no sertão, amores perdidos, colheitas fartas, e saudades que insistiam em ficar.

Logo, o som da viola chamou outros. 

Os vizinhos foram chegando aos poucos, trazendo cadeiras, café coado, e, claro, suas próprias histórias. 

Dona Maria, com seu lenço florido, cantou modas antigas que aprendera ainda menina. 

O Zé da venda apareceu com o pandeiro embaixo do braço e um sorriso largo no rosto. 

Até as crianças, sempre inquietas, pararam para ouvir.

Ali, naquele encontro simples, não havia pressa, nem preocupações com o relógio. 

Cada acorde unia as pessoas, como se as vozes e as risadas fossem parte da melodia. 

A cultura caipira pulsava viva, não só nas canções, mas na generosidade em compartilhar momentos, no respeito às tradições, e no amor à terra que sustentava a todos.

O sol começou a se esconder atrás das montanhas, mas ninguém parecia notar. 

Naquele dia, as notas da viola haviam costurado o tecido invisível da comunidade, mostrando que a verdadeira riqueza estava na simplicidade e no calor humano que só o campo sabe oferecer.

E assim, sob a luz dourada do entardecer, a pequena roda de viola continuou, provando que, enquanto houver gente que viva e ame a cultura caipira, suas raízes jamais serão arrancadas.

A SIMPLE ENCOUNTER THE VIOLA

That morning, under a clear sky, the scent of wet earth still lingered in the air, a memory of the rain that had caressed the ground the night before. 

The small village seemed asleep, except for the sound coming from the porch of a wooden house by the creek. 

It was a familiar sound, like a conversation between old friends: the strumming of a viola.

Mr. Joaquim, a man with hands calloused from years of farm work, was tuning the strings of his longtime companion. 

The viola bore the marks of time, but its soul remained intact. Each note he played seemed to evoke stories of life in the countryside, lost loves, bountiful harvests, and the lingering ache of saudade.

Soon, the sound of the viola drew others in. 

Neighbors began arriving, bringing chairs, freshly brewed coffee, and, of course, their own tales. 

Dona Maria, with her floral scarf, sang old folk songs she had learned as a child. 

Zé from the local store showed up with a tambourine under his arm and a wide smile on his face. Even the children, usually restless, stopped to listen.

There, in that simple gathering, there was no rush, no concern for the clock. 

Each chord brought people closer, as if their voices and laughter were part of the melody. 

The caipira culture came alive, not just in the songs but in the generosity of sharing moments, the respect for traditions, and the love for the land that sustained them all.

The sun began to hide behind the mountains, but no one seemed to notice. 

On that day, the notes of the viola had woven an invisible thread of community, showing that true wealth lies in simplicity and the human warmth that only the countryside can offer.

And so, under the golden light of the sunset, the little viola gathering continued, proving that as long as there are people who live and cherish caipira culture, its roots will never be lost.

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