27 Set, 2024

A VIOLA E O VIOLEIRO

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

A VIOLA E O VIOLEIRO

A história da viola e do violeiro começa muito antes do primeiro acorde. No meio dessa conexão mágica entre o talento e a terra, há um personagem quase invisível, mas fundamental: o luthier. É ele quem dá vida ao instrumento, trabalhando a madeira com paciência e sabedoria. O luthier, em sua oficina silenciosa, transforma troncos em música. Cada detalhe da construção da viola é uma homenagem à natureza, uma tradução das formas brutas da terra em algo delicado e profundo.

Quando o luthier termina seu trabalho, ele entrega à viola um destino: ser tocada. Mas ele também entrega ao violeiro uma missão: a de trazer à tona toda a alma que a madeira carrega. A viola, nascida das mãos do luthier, já traz consigo uma energia latente, como se as histórias que ela contaria já estivessem guardadas em suas fibras. O luthier, então, se retira para o silêncio, deixando o instrumento seguir seu caminho nas mãos de quem sabe dar vida a cada uma de suas notas.

E é aí que entra o violeiro. Quando ele segura a viola, algo mágico acontece. O instrumento que antes estava quieto agora encontra sua voz, como se estivesse esperando o toque certo, aquele que sabe ouvir o que a madeira quer dizer. O violeiro, com sua habilidade quase instintiva, entende a alma da viola. Ele não apenas toca — ele dialoga com o instrumento, como se cada acorde fosse uma resposta a algo que só ele e a viola sabem.

Nas mãos do violeiro, a viola não é apenas um objeto. É um portal para a memória da terra, para as histórias que ela carrega. Cada nota parece ter o cheiro da terra molhada, o calor do sol no campo, a brisa suave das montanhas. E o violeiro, com seu talento, é capaz de fazer essas paisagens sonoras se desdobrarem diante de quem escuta. Ele faz a viola chorar de saudade, cantar de alegria, silenciar com a paz de um fim de tarde.

A conexão entre o violeiro e a viola é tão profunda que, por vezes, parece que o instrumento tem vida própria. Mas é o toque do violeiro que desperta essa vida, que transforma o som em sentimento. Não é apenas música; é uma comunicação silenciosa entre o homem e a terra, mediada pelo instrumento que nasceu das mãos do luthier, cresceu no coração do violeiro e agora ecoa no mundo.

E assim, a magia se completa. A viola, moldada pelo luthier e trazida à vida pelo violeiro, se transforma em uma ponte entre tempos e lugares, entre emoções e histórias. Cada vez que o violeiro dedilha as cordas, a terra fala. E quem escuta, mesmo sem entender de onde vem, sente o poder dessa união — entre a arte, o talento e o espírito da natureza.

English

THE VIOLA AND THE VIOLEIRO

The story of the viola and the violeiro begins long before the first chord is ever struck. Between this magical connection of talent and the earth, there is an almost invisible yet fundamental figure: the luthier. He is the one who breathes life into the instrument, working the wood with patience and wisdom. In his quiet workshop, the luthier transforms logs into music. Every detail in the making of the viola is a tribute to nature, translating the raw forms of the earth into something delicate and profound.

When the luthier finishes his work, he bestows upon the viola a destiny: to be played. But he also gives the violeiro a mission: to bring out all the soul that the wood carries within. The viola, born from the hands of the luthier, already holds latent energy, as if the stories it will tell are already embedded in its fibers. The luthier then retreats into silence, allowing the instrument to follow its path in the hands of someone who knows how to breathe life into every note.

And that is where the violeiro comes in. When he holds the viola, something magical happens. The instrument, once silent, now finds its voice, as if it had been waiting for the right touch—someone who knows how to listen to what the wood has to say. The violeiro, with his almost instinctive skill, understands the viola’s soul. He doesn’t just play it—he converses with it, as if each chord were a response to something only he and the viola know.

In the hands of the violeiro, the viola is not just an object. It is a portal to the memory of the land, to the stories it carries. Every note seems to hold the scent of damp earth, the warmth of the sun on the fields, the gentle breeze from the mountains. And the violeiro, with his talent, is able to unfold these soundscapes before those who listen. He makes the viola weep with longing, sing with joy, or fall silent with the peace of a quiet evening.

The connection between the violeiro and the viola runs so deep that, at times, it feels as if the instrument has a life of its own. But it is the touch of the violeiro that awakens this life, transforming sound into feeling. It’s not just music; it’s a silent communication between man and earth, mediated by the instrument born from the luthier’s hands, grown in the violeiro’s heart, and now echoing across the world.

And thus, the magic completes itself. The viola, shaped by the luthier and brought to life by the violeiro, becomes a bridge between times and places, between emotions and stories. Every time the violeiro plucks its strings, the earth speaks. And those who listen, even without knowing where it comes from, feel the power of this union—between art, talent, and the spirit of nature.

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19 Set, 2024

O CORAÇÃO DA ROÇA

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

O CORAÇÃO DA ROÇA

Naquela roça simples, o tempo parecia parar. 

A cozinha, sempre movimentada e acolhedora, era o centro de tudo. 

O fogão a lenha estalava, espalhando um calor que não era apenas físico, mas um abraço silencioso que envolvia a todos. 

Nos cantos, os bancos compridos serviam como um convite para quem quisesse se juntar à roda, para sentir-se parte de algo maior.

Mas o que realmente aquecia os corações naquela noite não era o fogo do fogão. 

Era a música, aquela música improvisada, nascida da alma e da convivência. 

Meus tios, com os rostos iluminados pela luz suave do lampião a gás, davam vida a uma melodia que parecia vir das profundezas de suas memórias. 

O acordeon gemia notas cheias de saudade, enquanto o violão acompanhava com acordes que faziam ecoar o som das tardes ensolaradas no campo. 

E aquele som, aparentemente simples, de uma colher batendo em improviso, trazia sorrisos nos rostos, como se a música tivesse o poder de fazer desaparecer todas as preocupações.

Eles não tocavam apenas instrumentos, tocavam o coração de todos nós. 

Cada sorriso, cada olhar trocado entre eles, revelava uma cumplicidade que só o tempo podia construir. 

Era como se, naquele instante, todos os problemas do mundo se dissolvessem, e só restasse o som da música e o calor da companhia.

E nós, que assistíamos, éramos parte disso. 

Os risos ecoavam pela cozinha, as palmas ritmadas acompanhavam as canções, e o brilho nos olhos de cada um revelava algo que palavras jamais conseguiriam descrever. 

Havia ali um sentimento de pertencimento, de amor, de gratidão por estar junto.

A luz do lampião tremeluzia, criando sombras suaves nas paredes, mas também iluminando os rostos marcados pelo tempo e pelas histórias vividas. 

Aqueles eram momentos que sabíamos que não voltariam mais, mas que, de alguma forma, permaneciam eternos em nossas almas. 

Porque naquela noite, naquela cozinha simples, não era apenas uma família que se reunia – era a própria vida que dançava ao som da música, iluminada por uma chama que nunca se apaga dentro de nós.

English

THE HEART OF THE COUNTRYSIDE

In that simple countryside, time seemed to stand still.

The kitchen, always bustling and welcoming, was the heart of everything.

The wood-burning stove crackled, spreading a warmth that wasn’t just physical but a silent embrace that enveloped everyone.

In the corners, the long benches served as an invitation for anyone who wanted to join the circle, to feel part of something bigger.

But what really warmed the hearts that night wasn’t the fire from the stove.

It was the music, that improvised music, born from the soul and companionship.

My uncles, their faces illuminated by the soft light of the gas lamp, brought to life a melody that seemed to come from the depths of their memories.

The accordion wailed notes full of longing, while the guitar accompanied with chords that echoed the sound of sunlit afternoons in the fields.

And that sound, seemingly simple, of a spoon tapping in improvisation, brought smiles to faces, as if the music had the power to make all worries disappear.

They weren’t just playing instruments, they were playing the hearts of all of us.

Every smile, every glance exchanged between them, revealed a bond that only time could build.

It was as if, in that moment, all the world’s problems dissolved, and only the sound of music and the warmth of company remained.

And we, the ones watching, were part of it.

Laughter echoed through the kitchen, hands clapped rhythmically to the songs, and the sparkle in everyone’s eyes revealed something that words could never describe.

There was a feeling of belonging, of love, of gratitude for being together.

The lamp’s light flickered, casting soft shadows on the walls, but also illuminating the faces marked by time and the stories lived.

Those were moments we knew would never return, yet somehow remained eternal in our souls.

Because that night, in that simple kitchen, it wasn’t just a family that gathered – it was life itself, dancing to the sound of music, illuminated by a flame that never goes out within us.

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12 Set, 2024

A DESTRUIÇÃO DA TERRA

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

A DESTRUIÇÃO DA TERRA

O caboclo da roça sempre viveu em harmonia com a terra.

Plantava no tempo certo, colhia com fartura e compartilhava com os vizinhos o que a terra lhe dava. Mas os tempos mudaram.

Hoje, ao invés de acordar com o cantar dos passarinhos e o cheiro da terra molhada, o caboclo sente o ar pesado, carregado de fumaça.

O horizonte que antes era verde, com plantações a perder de vista, agora é tomado pelas queimadas que devastam tudo.

O fogo, impiedoso, consome as árvores e os animais que nela se abrigam.

O caboclo anda pela terra que um dia foi sua fonte de vida e só encontra cinzas.

Os bichos, antes companheiros do campo, já não têm refúgio.

O gado que pastava tranquilo, as aves que enchiam o céu com seu voo, hoje estão sumindo, vítimas desse fogo cruel e a devastação sem controle que não dá trégua.

Os rios que cortavam as terras, cristalinos, agora secam, barrentos e tristes.

O caboclo olha para o céu e faz uma prece.

Ele sabe que a natureza sempre teve suas leis, que o ciclo da vida é sagrado. Mas o que ele vê hoje não é obra do tempo ou das estações.

É a ganância dos homens, que desmatam, queimam e tiram da terra mais do que ela pode dar. É uma ferida aberta naquilo que ele tanto ama.

Ele espera por dias melhores.

Continua sua luta diária, plantando o pouco que resta, regando o solo com suas lágrimas e sua esperança.

Quem sabe, um dia, a terra volte a ser como antes, generosa e farta, e o caboclo da roça possa novamente viver em paz com a natureza.

Mas, por enquanto, ele só encontra silêncio e destruiçãoD

English

THE DESTRUCTION OF THE EARTH

The rural caboclo always lived in harmony with the land.

He planted at the right time, harvested abundantly, and shared with his neighbors what the land gave him. But times have changed.

Today, instead of waking up to the singing of birds and the smell of wet earth, the caboclo feels the heavy air, laden with smoke.

The horizon that was once green, with endless fields of crops, is now overtaken by wildfires that devastate everything.

The merciless fire consumes the trees and the animals that sought shelter there.

The caboclo walks through the land that was once his source of life, and all he finds are ashes.

The animals, once his companions in the fields, no longer have a refuge.

The cattle that grazed peacefully, the birds that filled the sky with their flight, are now disappearing, victims of this cruel fire and uncontrolled devastation that shows no mercy.

The rivers that once crossed the lands, clear and pure, are now drying up, muddy and sorrowful.

The caboclo looks up to the sky and says a prayer.

He knows that nature has always had its laws, that the cycle of life is sacred. But what he sees today is not the work of time or the seasons.

It’s the greed of men, who deforest, burn, and take more from the earth than it can give. It’s an open wound in what he loves so dearly.

He hopes for better days.

He continues his daily struggle, planting what little remains, watering the soil with his tears and his hope.

Perhaps, one day, the land will return to how it once was, generous and abundant, and the rural caboclo can once again live in peace with nature.

But for now, he finds only silence and destruction.

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4 Set, 2024

A VIOLA E O AMOR

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

A VIOLA E O AMOR

No silêncio do entardecer, quando o sol se despede tingindo o céu com tons de laranja e rosa, é que se ouve o som da viola. É um som que parece vir de dentro da terra, carregado de histórias, emoções e, acima de tudo, de amor. A viola, com suas dez cordas, é mais do que um instrumento musical; é a confidente dos corações apaixonados.

Cada dedilhado conta uma história, uma paixão vivida nas veredas do sertão. É como se a viola tivesse o poder de traduzir em música aquilo que o coração não consegue expressar em palavras. Nos braços de quem a toca, ela se torna extensão da alma, vibrando em sintonia com os sentimentos mais profundos.

Há quem diga que a viola nasceu do amor. Quem a conhece de perto, sabe que ela não mente. O violeiro, com mãos calejadas e coração inquieto, transforma as cordas em poemas, narrando o amor vivido sob o olhar atento das estrelas. Ali, entre um acorde e outro, brotam as canções que embalaram gerações, que embalam até hoje.

O amor que se canta com a viola é simples, puro e verdadeiro. É aquele amor que floresce nos campos, que resiste ao tempo, que se fortifica na saudade. É um amor que não exige nada além de reciprocidade, um amor que se entrega e que se perpetua no som que ecoa pelos sertões.

A viola, assim como o amor, não escolhe a quem se entrega. Ela se rende ao toque, ao sentimento que a conduz. E, nesse encontro, nasce uma melodia que fala direto ao coração, que faz o espírito dançar na cadência das emoções.

Se existe uma linguagem universal, essa é a da viola e do amor. Em cada canto do Brasil, onde quer que ela ressoe, há sempre alguém que entende o que ela diz, porque o amor é assim: não precisa ser traduzido, basta ser sentido. E a viola, na sua simplicidade, na sua sinceridade, nos lembra que o amor, assim como sua música, é eterno.

No fim, quando a noite chega e as luzes do céu se acendem, a viola repousa, mas o seu som permanece. É um som que fica guardado, que ecoa dentro de nós, como uma lembrança doce do amor que um dia tocou nosso coração. E é assim que a viola e o amor caminham juntos, compondo a trilha sonora da vida.

 

English

VIOLA AND LOVE

In the silence of dusk, when the sun bids farewell, painting the sky with shades of orange and pink, the sound of the viola can be heard. It’s a sound that seems to rise from the earth itself, filled with stories, emotions, and above all, love. The viola, with its ten strings, is more than just a musical instrument; it’s the confidant of passionate hearts.

Each pluck tells a story, a romance lived in the paths of the countryside. It’s as if the viola has the power to translate into music what the heart cannot express in words. In the hands of the player, it becomes an extension of the soul, vibrating in harmony with the deepest emotions.

Some say that the viola was born out of love. Those who know it well understand that it doesn’t lie. The violeiro, with calloused hands and a restless heart, transforms the strings into poems, narrating the love lived under the watchful eyes of the stars. There, between one chord and another, songs bloom, songs that have cradled generations, and still cradle us today.

The love sung with the viola is simple, pure, and true. It’s that love that blossoms in the fields, that withstands the test of time, that strengthens in longing. It’s a love that demands nothing but reciprocity, a love that surrenders itself and lives on in the sound that echoes through the countryside.

The viola, like love, doesn’t choose whom it surrenders to. It gives in to the touch, to the feeling that guides it. And in that encounter, a melody is born that speaks directly to the heart, making the spirit dance to the rhythm of emotions.

If there is a universal language, it’s that of the viola and love. In every corner of Brazil, wherever its sound is heard, there is always someone who understands what it says, because love is like that: it doesn’t need to be translated, only felt. And the viola, in its simplicity, in its sincerity, reminds us that love, like its music, is eternal.

In the end, when night falls and the lights of the sky shine, the viola rests, but its sound lingers. It’s a sound that stays within us, echoing like a sweet memory of the love that once touched our hearts. And so, the viola and love walk together, composing the soundtrack of life.

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