A DESTRUIÇÃO DA TERRA

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

A DESTRUIÇÃO DA TERRA

O caboclo da roça sempre viveu em harmonia com a terra.

Plantava no tempo certo, colhia com fartura e compartilhava com os vizinhos o que a terra lhe dava. Mas os tempos mudaram.

Hoje, ao invés de acordar com o cantar dos passarinhos e o cheiro da terra molhada, o caboclo sente o ar pesado, carregado de fumaça.

O horizonte que antes era verde, com plantações a perder de vista, agora é tomado pelas queimadas que devastam tudo.

O fogo, impiedoso, consome as árvores e os animais que nela se abrigam.

O caboclo anda pela terra que um dia foi sua fonte de vida e só encontra cinzas.

Os bichos, antes companheiros do campo, já não têm refúgio.

O gado que pastava tranquilo, as aves que enchiam o céu com seu voo, hoje estão sumindo, vítimas desse fogo cruel e a devastação sem controle que não dá trégua.

Os rios que cortavam as terras, cristalinos, agora secam, barrentos e tristes.

O caboclo olha para o céu e faz uma prece.

Ele sabe que a natureza sempre teve suas leis, que o ciclo da vida é sagrado. Mas o que ele vê hoje não é obra do tempo ou das estações.

É a ganância dos homens, que desmatam, queimam e tiram da terra mais do que ela pode dar. É uma ferida aberta naquilo que ele tanto ama.

Ele espera por dias melhores.

Continua sua luta diária, plantando o pouco que resta, regando o solo com suas lágrimas e sua esperança.

Quem sabe, um dia, a terra volte a ser como antes, generosa e farta, e o caboclo da roça possa novamente viver em paz com a natureza.

Mas, por enquanto, ele só encontra silêncio e destruiçãoD

English

THE DESTRUCTION OF THE EARTH

The rural caboclo always lived in harmony with the land.

He planted at the right time, harvested abundantly, and shared with his neighbors what the land gave him. But times have changed.

Today, instead of waking up to the singing of birds and the smell of wet earth, the caboclo feels the heavy air, laden with smoke.

The horizon that was once green, with endless fields of crops, is now overtaken by wildfires that devastate everything.

The merciless fire consumes the trees and the animals that sought shelter there.

The caboclo walks through the land that was once his source of life, and all he finds are ashes.

The animals, once his companions in the fields, no longer have a refuge.

The cattle that grazed peacefully, the birds that filled the sky with their flight, are now disappearing, victims of this cruel fire and uncontrolled devastation that shows no mercy.

The rivers that once crossed the lands, clear and pure, are now drying up, muddy and sorrowful.

The caboclo looks up to the sky and says a prayer.

He knows that nature has always had its laws, that the cycle of life is sacred. But what he sees today is not the work of time or the seasons.

It’s the greed of men, who deforest, burn, and take more from the earth than it can give. It’s an open wound in what he loves so dearly.

He hopes for better days.

He continues his daily struggle, planting what little remains, watering the soil with his tears and his hope.

Perhaps, one day, the land will return to how it once was, generous and abundant, and the rural caboclo can once again live in peace with nature.

But for now, he finds only silence and destruction.

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