A VIOLA E O VIOLEIRO
“Crônicas do Viola,” de André Viola.
A VIOLA E O VIOLEIRO
A história da viola e do violeiro começa muito antes do primeiro acorde. No meio dessa conexão mágica entre o talento e a terra, há um personagem quase invisível, mas fundamental: o luthier. É ele quem dá vida ao instrumento, trabalhando a madeira com paciência e sabedoria. O luthier, em sua oficina silenciosa, transforma troncos em música. Cada detalhe da construção da viola é uma homenagem à natureza, uma tradução das formas brutas da terra em algo delicado e profundo.
Quando o luthier termina seu trabalho, ele entrega à viola um destino: ser tocada. Mas ele também entrega ao violeiro uma missão: a de trazer à tona toda a alma que a madeira carrega. A viola, nascida das mãos do luthier, já traz consigo uma energia latente, como se as histórias que ela contaria já estivessem guardadas em suas fibras. O luthier, então, se retira para o silêncio, deixando o instrumento seguir seu caminho nas mãos de quem sabe dar vida a cada uma de suas notas.
E é aí que entra o violeiro. Quando ele segura a viola, algo mágico acontece. O instrumento que antes estava quieto agora encontra sua voz, como se estivesse esperando o toque certo, aquele que sabe ouvir o que a madeira quer dizer. O violeiro, com sua habilidade quase instintiva, entende a alma da viola. Ele não apenas toca — ele dialoga com o instrumento, como se cada acorde fosse uma resposta a algo que só ele e a viola sabem.
Nas mãos do violeiro, a viola não é apenas um objeto. É um portal para a memória da terra, para as histórias que ela carrega. Cada nota parece ter o cheiro da terra molhada, o calor do sol no campo, a brisa suave das montanhas. E o violeiro, com seu talento, é capaz de fazer essas paisagens sonoras se desdobrarem diante de quem escuta. Ele faz a viola chorar de saudade, cantar de alegria, silenciar com a paz de um fim de tarde.
A conexão entre o violeiro e a viola é tão profunda que, por vezes, parece que o instrumento tem vida própria. Mas é o toque do violeiro que desperta essa vida, que transforma o som em sentimento. Não é apenas música; é uma comunicação silenciosa entre o homem e a terra, mediada pelo instrumento que nasceu das mãos do luthier, cresceu no coração do violeiro e agora ecoa no mundo.
E assim, a magia se completa. A viola, moldada pelo luthier e trazida à vida pelo violeiro, se transforma em uma ponte entre tempos e lugares, entre emoções e histórias. Cada vez que o violeiro dedilha as cordas, a terra fala. E quem escuta, mesmo sem entender de onde vem, sente o poder dessa união — entre a arte, o talento e o espírito da natureza.
English
THE VIOLA AND THE VIOLEIRO
The story of the viola and the violeiro begins long before the first chord is ever struck. Between this magical connection of talent and the earth, there is an almost invisible yet fundamental figure: the luthier. He is the one who breathes life into the instrument, working the wood with patience and wisdom. In his quiet workshop, the luthier transforms logs into music. Every detail in the making of the viola is a tribute to nature, translating the raw forms of the earth into something delicate and profound.
When the luthier finishes his work, he bestows upon the viola a destiny: to be played. But he also gives the violeiro a mission: to bring out all the soul that the wood carries within. The viola, born from the hands of the luthier, already holds latent energy, as if the stories it will tell are already embedded in its fibers. The luthier then retreats into silence, allowing the instrument to follow its path in the hands of someone who knows how to breathe life into every note.
And that is where the violeiro comes in. When he holds the viola, something magical happens. The instrument, once silent, now finds its voice, as if it had been waiting for the right touch—someone who knows how to listen to what the wood has to say. The violeiro, with his almost instinctive skill, understands the viola’s soul. He doesn’t just play it—he converses with it, as if each chord were a response to something only he and the viola know.
In the hands of the violeiro, the viola is not just an object. It is a portal to the memory of the land, to the stories it carries. Every note seems to hold the scent of damp earth, the warmth of the sun on the fields, the gentle breeze from the mountains. And the violeiro, with his talent, is able to unfold these soundscapes before those who listen. He makes the viola weep with longing, sing with joy, or fall silent with the peace of a quiet evening.
The connection between the violeiro and the viola runs so deep that, at times, it feels as if the instrument has a life of its own. But it is the touch of the violeiro that awakens this life, transforming sound into feeling. It’s not just music; it’s a silent communication between man and earth, mediated by the instrument born from the luthier’s hands, grown in the violeiro’s heart, and now echoing across the world.
And thus, the magic completes itself. The viola, shaped by the luthier and brought to life by the violeiro, becomes a bridge between times and places, between emotions and stories. Every time the violeiro plucks its strings, the earth speaks. And those who listen, even without knowing where it comes from, feel the power of this union—between art, talent, and the spirit of nature.