NOITE DE LENDAS

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

NOITE DE LENDAS E TRAVESSURAS CAIPIRA

Lá vem ele, o Saci, pulando num pé só com um sorriso maroto no rosto, brincando de assustar quem se atreve a encarar a noite no sertão. 

Quem vê diz que ele traz sorte – ou azar, depende do humor do danado. 

Naquela noite de outubro, os ventos já rodopiavam como se dançassem ao som de uma viola ao longe, e era o sinal: o Saci vinha em festa.

O mato parecia em festa também, com vaga-lumes que piscavam como lampiões, acompanhando o Saci em seu desfile solitário pela escuridão.

Não era noite de Halloween, não. 

Era noite de lenda, noite de encanto, noite de prosa boa, noite de resgate. 

E ao invés de bruxas ou vampiros, o Saci reinava soberano, com seu cachimbo soltando fumaça que desenhava formas no ar. 

Quem tem medo dele? Ah, só quem não entende a brincadeira.

Imagina só! 

Em cada porta, ao invés de “Gostosuras ou travessuras?”, uma pergunta bem mais nossa: “E aí, moço, tem história boa pra contar?” 

E não faltariam causos de fazer qualquer criança prender o fôlego, histórias de mula sem cabeça, do Curupira, do Boitatá… 

Um desfile de criaturas que trazem a alma da nossa terra, figuras que nascem da nossa mata, do nosso chão. 

Crianças correm, não de monstros, mas de risos, com medo de perder o encanto das histórias contadas ao pé da porta.

E ali no campo, ao invés de uma abóbora cortada em forma de rosto, temos um fogaréu, uma fogueira que estala e ri junto com as crianças, iluminando rostos que crescem ouvindo sobre o Saci e o Curupira. 

Naquela noite, as estrelas, cúmplices de toda essa travessura caipira, parecem brilhar mais forte, e cada uma parece dizer: “Esse é o nosso encantamento, nossa fantasia, nosso modo de ser.”

Ao final da noite, o Saci some, levado pelo vento, deixando só um rastro de folhas e uma gargalhada que ecoa nas colinas. 

Quem ouviu, ouviu. Quem não ouviu, aguarde até a próxima lenda. Porque o encanto do caipira, esse nunca desaparece.

A NIGHT OF COUNTRY LEGENDS AND MISCHIEF

Here he comes, Saci, hopping on one leg with a mischievous grin, playing at scaring anyone brave enough to face the night in the countryside. They say he brings luck—or mischief, depending on his mood. 

That October night, the winds were already swirling as if dancing to the tune of a distant viola, and it was a sign: 

Saci was coming to celebrate.

The forest seemed to join in, with fireflies flickering like lanterns, following Saci in his solitary parade through the darkness. 

It wasn’t Halloween night, no. It was a night of legend, a night of enchantment, a night for good stories, a night to reconnect. 

And instead of witches or vampires, Saci reigned supreme, his pipe puffing out smoke that drew shapes in the air. 

Who’s afraid of him? Ah, only those who don’t understand his playful spirit.

Just imagine! At each doorstep, instead of “Trick or treat?” you’d hear something much more ours: “Got a good story to tell?” And there’d be no shortage of tales to make any child hold their breath—stories of the headless mule, Curupira, Boitatá… 

A parade of creatures that carry the spirit of our land, figures born of our forests and fields. 

Children would run, not from monsters, but from laughter, afraid only of missing the magic in the stories shared at each doorstep.

And out there in the countryside, instead of a carved pumpkin, there’d be a bonfire crackling and laughing along with the children, lighting up faces that grow up hearing about Saci and Curupira. 

On that night, the stars, accomplices in this whole countryside mischief, seem to shine even brighter, each one whispering, “This is our magic, our fantasy, our way of being.”

At the end of the night, Saci vanishes, carried off by the wind, leaving only a trail of leaves and a laugh echoing over the hills. 

Those who heard it, heard it. Those who didn’t, wait until the next legend. Because this countryside enchantment, it never fades.

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