FESTA NA ROÇA
“Crônicas do Viola,” de André Viola.
FESTA NA ROÇA
Era noite de lua cheia na roça, e o cheiro de terra molhada se misturava ao aroma doce de bolo de fubá e café coado.
A casa grande, simples e aconchegante, já estava toda iluminada com lampiões e pisca-piscas coloridos, como se anunciassem que ali a alegria seria a convidada principal.
A festa na roça não precisava de muito: uma mesa comprida no terreiro, coberta por uma toalha de chita e repleta de quitutes caseiros, já era o suficiente para atrair a vizinhança inteira.
Tinha pão de queijo saindo do forno, pamonha ainda quente, curau com um toque de canela e o clássico arroz doce com cravo.
Mais ao canto, a cachaça artesanal brilhava em garrafas de vidro, pronta para esquentar a alma e soltar o riso.
E claro, onde há festa na roça, há música.
No pequeno palco improvisado — feito com tábuas de madeira que um dia foram uma cerca — um grupo de violeiros se ajeitava, afinando as violas e o acordeon.
O primeiro acorde era o convite para começar o arrasta-pé, e logo o som de sanfona, triângulo e zabumba enchia o ar.
As crianças corriam ao redor, brincando de pega-pega enquanto os adultos se juntavam para dançar quadrilha, todos rindo das improvisações e das trocas de par no meio do caminho.
No meio da festa, alguém soltava um grito:
— Olha a cobra!
E o coro respondia:
— É mentira!
Mais tarde, já com o céu bordado de estrelas, a fogueira foi acesa.
As chamas dançavam ao ritmo da festa, lançando faíscas que subiam como pequenos vagalumes.
Todos se sentavam ao redor, compartilhando histórias do passado e causos que sempre ganhavam um detalhe a mais a cada ano.
Era o momento de aquecer as mãos e o coração, porque a roça tem dessas coisas: acolhe e une, como se o mundo lá fora nem existisse.
Quando o galo cantou anunciando o nascer de um novo dia, os últimos violeiros ainda dedilhavam as cordas, e um ou outro casal dançava devagar, guardando na memória a magia daquela noite.
Na roça, cada festa é uma celebração da vida.
E mesmo quando o último lampião se apaga, o brilho das lembranças continua aceso, iluminando a alma como um raio de sol que nunca se põe.
PARTY IN THE COUNTRYSIDE
It was a full moon night in the countryside, and the scent of damp earth mixed with the sweet aroma of corn cake and freshly brewed coffee.
The big house, simple and cozy, was already lit up with lanterns and colorful string lights, as if announcing that joy was the main guest of the evening.
A countryside party didn’t need much: a long table in the yard, covered with a floral cloth and filled with homemade treats, was enough to bring the whole neighborhood together.
There were freshly baked cheese breads, warm corn pudding, creamy curau with a sprinkle of cinnamon, and classic rice pudding with cloves. Off to the side, artisanal cachaça glimmered in glass bottles, ready to warm spirits and bring laughter.
And of course, where there’s a countryside party, there’s music.
On a small makeshift stage — built with wooden planks that once formed a fence — a group of musicians tuned their guitars and accordion.
The first chord was an open invitation to start the square dance, and soon the sound of the accordion, triangle, and bass drum filled the air. Children ran around, playing tag, while the adults joined in the dancing, laughing at the improvisations and the occasional partner swaps along the way.
In the middle of the party, someone shouted:
“Look out, there’s a snake!”
And the chorus replied:
“It’s a lie!”
Later, as the sky glittered with stars, the bonfire was lit.
The flames danced along with the party, sending sparks soaring like tiny fireflies.
Everyone gathered around, sharing stories from the past and tales that seemed to gain an extra twist every year. It was the moment to warm hands and hearts because the countryside has a way of embracing everyone, as if the outside world didn’t even exist.
When the rooster crowed to announce the dawn of a new day, the last musicians were still strumming their guitars, and a few couples danced slowly, holding on to the magic of the night.
In the countryside, every party is a celebration of life.
And even when the last lantern is extinguished, the glow of memories remains, lighting up the soul like a ray of sunlight that never sets.