A VIOLA E O AMOR

“Crônicas do Viola,” de André Viola.

A VIOLA E O AMOR

No silêncio do entardecer, quando o sol se despede tingindo o céu com tons de laranja e rosa, é que se ouve o som da viola. É um som que parece vir de dentro da terra, carregado de histórias, emoções e, acima de tudo, de amor. A viola, com suas dez cordas, é mais do que um instrumento musical; é a confidente dos corações apaixonados.

Cada dedilhado conta uma história, uma paixão vivida nas veredas do sertão. É como se a viola tivesse o poder de traduzir em música aquilo que o coração não consegue expressar em palavras. Nos braços de quem a toca, ela se torna extensão da alma, vibrando em sintonia com os sentimentos mais profundos.

Há quem diga que a viola nasceu do amor. Quem a conhece de perto, sabe que ela não mente. O violeiro, com mãos calejadas e coração inquieto, transforma as cordas em poemas, narrando o amor vivido sob o olhar atento das estrelas. Ali, entre um acorde e outro, brotam as canções que embalaram gerações, que embalam até hoje.

O amor que se canta com a viola é simples, puro e verdadeiro. É aquele amor que floresce nos campos, que resiste ao tempo, que se fortifica na saudade. É um amor que não exige nada além de reciprocidade, um amor que se entrega e que se perpetua no som que ecoa pelos sertões.

A viola, assim como o amor, não escolhe a quem se entrega. Ela se rende ao toque, ao sentimento que a conduz. E, nesse encontro, nasce uma melodia que fala direto ao coração, que faz o espírito dançar na cadência das emoções.

Se existe uma linguagem universal, essa é a da viola e do amor. Em cada canto do Brasil, onde quer que ela ressoe, há sempre alguém que entende o que ela diz, porque o amor é assim: não precisa ser traduzido, basta ser sentido. E a viola, na sua simplicidade, na sua sinceridade, nos lembra que o amor, assim como sua música, é eterno.

No fim, quando a noite chega e as luzes do céu se acendem, a viola repousa, mas o seu som permanece. É um som que fica guardado, que ecoa dentro de nós, como uma lembrança doce do amor que um dia tocou nosso coração. E é assim que a viola e o amor caminham juntos, compondo a trilha sonora da vida.

 

English

VIOLA AND LOVE

In the silence of dusk, when the sun bids farewell, painting the sky with shades of orange and pink, the sound of the viola can be heard. It’s a sound that seems to rise from the earth itself, filled with stories, emotions, and above all, love. The viola, with its ten strings, is more than just a musical instrument; it’s the confidant of passionate hearts.

Each pluck tells a story, a romance lived in the paths of the countryside. It’s as if the viola has the power to translate into music what the heart cannot express in words. In the hands of the player, it becomes an extension of the soul, vibrating in harmony with the deepest emotions.

Some say that the viola was born out of love. Those who know it well understand that it doesn’t lie. The violeiro, with calloused hands and a restless heart, transforms the strings into poems, narrating the love lived under the watchful eyes of the stars. There, between one chord and another, songs bloom, songs that have cradled generations, and still cradle us today.

The love sung with the viola is simple, pure, and true. It’s that love that blossoms in the fields, that withstands the test of time, that strengthens in longing. It’s a love that demands nothing but reciprocity, a love that surrenders itself and lives on in the sound that echoes through the countryside.

The viola, like love, doesn’t choose whom it surrenders to. It gives in to the touch, to the feeling that guides it. And in that encounter, a melody is born that speaks directly to the heart, making the spirit dance to the rhythm of emotions.

If there is a universal language, it’s that of the viola and love. In every corner of Brazil, wherever its sound is heard, there is always someone who understands what it says, because love is like that: it doesn’t need to be translated, only felt. And the viola, in its simplicity, in its sincerity, reminds us that love, like its music, is eternal.

In the end, when night falls and the lights of the sky shine, the viola rests, but its sound lingers. It’s a sound that stays within us, echoing like a sweet memory of the love that once touched our hearts. And so, the viola and love walk together, composing the soundtrack of life.

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