INCIPT COLUMNA

“[…] Uma sociedade que não estuda história não consegue entender a si própria porque desconhece suas raízes e as razões que a trouxeram até aqui” (de Laurentino Gomes, no livro “1808”).

Viola, Saúde e Paz! Começando do começo: é uma grande honra aceitar o convite de trazer reflexões como as que já fazemos há algum tempo pelas redes sociais para o portal Viola Viva – um dos mais respeitáveis trabalhos dedicados à viola, que já acompanhamos e aplaudimos há cerca de duas décadas (por interesses de pesquisa e por nossa paixão pelo instrumento). Agradecemos muito ao André Viola pela dedicação e, agora, também pela confiança no trabalho. Se “um gambá cheira o outro”, pode-se dizer que é a paixão comum pela viola que nos provê aromas similares.

O que tentaremos fazer é utilizar aqui uma linguagem que recentemente amadurecemos no livro “A Chave do Baú”: falar de coisas sérias, científicas, comprováveis – mas como uma boa “prosa”, sabe como? Nossa experiência com textos de formato acadêmico (como o Prêmio Pesquisas Secult MG, ao qual cumprimos com a monografia “Linha do Tempo da Viola no Brasil” e, em seguida, o artigo científico “Cronologia das Violas segundo pesquisadores”) levou a observar que o trato correto e honesto com dados históricos revela muitas surpresas emocionantes – mas também que as regras científicas (ferramentas necessárias e muito úteis) não aproximam tanto assim dos assuntos a maioria das pessoas comuns: estas são mais movidas pela paixão. Tenho certeza que vários dos que estão a ler neste momento entendem bem: não é questão de fazer dinheiro (ou “só de fazer dinheiro”): gostamos do instrumento, “nos apaixonamos” por vários motivos e queremos falar disso, saber mais, divulgar, colocar a viola sempre “pra cima”…

No caso de quem descobre informações pouco difundidas, esse desejo se torna ainda maior. A descoberta de itens que possam ser comprovados (pela indicação de fontes, principalmente fontes de época) exige muita leitura e método científico (chamado “metodologia”); mas divulgar estas descobertas não precisa ser, obrigatoriamente, uma coisa “chata”, com palavras e conceitos difíceis: pode (e deve) ser transmitido com o mesmo amor, a mesma paixão que sempre nos moveu. Todos gostamos de contar e ouvir histórias: a única diferença aqui é que nos dedicamos a só contar aquelas que podemos provar, que conseguimos encontrar indicações, evidências, registros. Talvez não sejam tão fantasiosas, “perfeitas e agradáveis” como as que normalmente são contadas sobre viola, mas são boas histórias. E verdadeiras, que é o mais importante.

Naturalmente, falamos aqui da viola dedilhada – a popular, não a “de arco”, das orquestras… A viola que, bem antigamente, se aprendia quase que só “de pai pra filho” ou entre os praticantes das Folias de Reis e tradições similares; depois, também se passou a aprender em grupos, nas chamadas “orquestras” – e que agora, felizmente, temos à disposição também vários “professores” ou “instrutores”, além de vários tipos de conteúdos disponíveis até gratuitamente, pela internet (olha nós aqui, inserindo conteúdos históricos no “pacote”…).

Percebeu pelo trecho anterior que até para deixar claro quais as violas que tanto amamos (pois há outras “violas”, vamos inclusive falar bastante disso aqui), cabe apontar dados históricos, ou seja, coisas que aconteceram na história dela? Afinal, é um instrumento citado pelo nome desde o começo do Brasil: pode-se dizer que nossas histórias se misturam ou que as violas são testemunhas de toda a História brasileira, até os dias atuais. Descobrimos, inclusive, que instrumentos musicais costumam ser assim desde os mais remotos tempos. Laurentino Gomes – jornalista paulista que homenageamos na abertura – tem toda a razão… só acrescenta-se, no caso das violas, que somos um povo naturalmente “contador de histórias”: o que precisamos é afinar a linguagem, para nos entendermos, aprendermos e nos divertimos juntos.

O próprio título do nosso livro tem a ver com isso: “chave do baú” é um “apelido” que inventamos para uma coisa complicada e científica: uma metodologia que desenvolvemos para poder desvendar, com segurança, mistérios (ou “tesouros”) ainda pouco explorados sobre as “nossa violinhas”, pelos séculos. Nem é tão fantasioso assim: realmente, o processo científico “chato”, cheio de regras e “especificidades” (opa… desculpa por este “palavrão”…) se parece com uma “caça ao tesouro”, pode ser tão divertido quanto uma aventura dos piratas do cinema. Vários caçadores já trilharam alguns caminhos, que usamos para iniciar nossas buscas e, com as novas ferramentas de pesquisa e comprovação desenvolvidas, conseguimos ir além e encontrar vários tesouros perdidos.

Na verdade, não nos atrevemos apenas a chafurdar, conferir e colecionar dados poucos divulgados de toda a história das nossas violinhas (e dos ancestrais dela): ao mesmo tempo, também damos dicas de como usar a ferramenta para pesquisar qualquer outra coisa que se queira. Ou seja: não só trazemos o peixe mas, aos que tiverem interesse e estiverem bem atentos, ensinamos como pescamos e até como pescar mais.

Que tal? Bora nessa? Seja bem vindo. Qualquer dúvida, faça contato, critique, sugira, peça indicações de leituras: o que temos (inclusive, muita dedicação) é para viola, pelas violas. Estamos à disposição… E vamos proseando…

(João Araújo escreve na coluna Viola Brasileira em Pesquisa às terças e quintas. Músico, produtor, gestor cultural, pesquisador e escritor, seu livro “A Chave do Baú” é fruto da monografia “Linha do Tempo da Viola no Brasil” e do artigo “Chronology of Violas according to Researchers”).

(imagem: capa livro “A Chave do Baú”, de João Araújo)

COMPARTILHE
Facebook
Twitter
WhatsApp

LIVRO A CHAVE DO BAÚ

ADQUIRA AGORA

ZAP (31) 99952-1197

JOÃO ARAUJO

Artigos Anteriores

COMO EUROPEUS VEEM AS VIOLAS

COMO EUROPEUS VEEM AS VIOLAS I have chosen this fiddle among the many, because it is a good...

O VIOLÃO: COMO E PORQUE SURGIU

O VIOLÃO: como e porque surgiu   “ Recebendo de Espanha o violão, como a viola vulgarizado pelos...

SOBRE JESUÍTAS E VIOLAS

SOBRE JESUÍTAS E VIOLAS   Quamobrem nec organa aut musicus canendi ritus, missis aut officiis suis...

A HISTÓRIA DAS VIOLAS EM QUATRO PERÍODOS

A HISTÓRIA DAS VIOLAS EM QUATRO PERÍODOS “ chegamos à conclusão de que a guitarra italiana, guitarra...

QUANTO MAIS COMPADRES, MAIS VERDADE?

QUANTO MAIS COMPADRES, MAIS VERDADE? Que responderá a isto o Caipora* Semanario, e a servil recova...

NÚMERO DE CORDAS É DOCUMENTO?

NÚMERO DE CORDAS É DOCUMENTO? Viola, Saúde e Paz! Entre as ainda não consensuais considerações da...

COERÊNCIAS HISTÓRICAS EM INSTRUMENTOS MUSICAIS

Coerências históricas em instrumentos musicais “ instrumentos musicais são artefatos mediadores de...

O SEGREDO POR TRÁS DA CHAVE DO BAÚ

O Segredo por trás da Chave do Baú Viola, Saúde e Paz! Por acaso conhece o nome onomatorganologia?...

EXCEÇÕES QUE ATESTAM A REGRA

EXCEÇÕES QUE ATESTAM A REGRA Viola, Saúde e Paz! Temos sempre desenvolvido por aqui nos Brevis...