QUANTO MAIS COMPADRES, MAIS VERDADE?

QUANTO MAIS COMPADRES, MAIS VERDADE?

[…] Que responderá a isto o Caipora* Semanario, e a servil recova de, que he almucavar? Fallão ou não verdades os Redactores do Constitucional? São eles os desorganizadores, ou são os Caiporas, Semanário Cívico, e sua gente? Quem forma os Partidos aquelles ou estes? Citem-nos os Caiporas huma só linha da nossa Folha, em que não preguemos União e mais União […] E quantas vezes nos tem insultado os Caiporas? […] Basta como o Semanario, e Caiporas.

*Assim chamaremos, d’hoje em diante os inimigos do Brasil, e da Nação.

(Jornal O Constitucional, 03/07/1822, nº 37, p.1, grifos originais)

Viola, Saúde e Paz!

O recorte em destaque nunca teria sido considerado por Cornélio Pires, nem Antônio Cândido, nem Inezita Barroso. Na atualidade, não é decantado pelos maiores sociólogos, antropólogos, folcloristas e similares, nem por musicólogos e historiadores, ou pelos considerados maiores “papas” das violas dedilhadas… Só a lista de doutores que hoje em dia incrivelmente defendem o caipirismo como se fosse uma “cultura ancestral” é imensa e praticamente o Brasil inteiro parece concordar.

Em todo o mundo, por enquanto, só João Araújo parece ter coragem, capacidade e maluquice suficiente para apontar (e provar, cientificamente) que há, no mínimo, um grande equívoco neste “entendimento coletivo” tão defendido.

Por isso, não há por que acreditar em João Araújo, um maluco desprezado pela maioria dos violeiros, que tem pouquíssimos “compadres”, não é mesmo? E nem precisa acreditar, pois, diferente de todos os demais, o que fazemos é apresentar registros de época e contextos científicos que atestam o que dizemos. Centenas deles estão em nossos levantamentos: desprezar dados e criticar o mensageiro é comportamento típico de quem não tem como refutar a verdade dos fatos.

Dentre centenas de dados de época, o destaque aqui deste Brevis Articulus é a mais remota evidência (mas não a única) de que o termo “caipora” seria, em 1822, um apelido político, utilizado por apoiadores da monarquia absoluta.

Naquele mesmo ano, o pesquisador francês Saint-Hilaire teria ouvido outro termo parecido, na então Vila São Paulo: “caipira”, um nome que teria chamado bastante a atenção do professor pesquisador que, à época, demonstrava familiaridade com diversas línguas, entre elas o latim, o português e até o tupi / língua geral. Alguns anos depois, já de volta à França, e após bem referenciada pesquisa científica (pesquisa que checamos item a item, como fazemos sempre), o pesquisador concluiu que caipira não seria termo original indígena; e observou que seria também utilizado como apelido político, por pessoas do mesmo viés que destacamos, então chamados “miguelistas”. Tudo isso está bem apontado no livro Voyage dans les provinces de Saint-Paul et Saint-Catherine (publicação em francês de 1851, Tomo I, ver páginas 238-239, inclusive o rico rodapé).

Saint-Hilaire não teria feito o mesmo desenvolvimento que hoje fazemos, pois além de aparentemente não ter lido aquela ou outras matérias similares dos jornais, o termo “caipora” já apareceria corrompido de significado em dicionários a partir de meados da década de 1820, como ainda o é hoje em dia. Dicionários, algumas vezes, mais atrapalham que ajudam e assim parece que, até hoje, só João Araújo conseguiu perceber que “caipora” e “caipira” teriam o mesmo significado e propósito, quando foram criados, e pelo “homem branco”, não por indígenas. Não encontramos nenhum registro dos dois termos antes do início do século XIX mas são, no mínimo, “curiosos” os exercícios de “linguística intuitiva” que as pessoas acreditam, muito provavelmente por ser conveniente acreditar.

Um dos exercícios criativos mais vistos é que caipira teria algo a ver com “carpir” ou “capinar”. Seriam mutações bem interessantes: a partir de caa, do tupi/língua geral original, o “brotamento espontâneo” das letras “r” ou “i” em substituição a uma letra “a”. Mais interessante: teria sido apenas nesta palavra, posto que caa teria seguido em outras até hoje, como caapi (cipó amazonense) ou simplesmente teria sumido um “a”, sem brotar nenhuma outra letra, como em “capim” (que é como se fosse caapim).

O moderno “exercício livre” de etimologia, entretanto, nunca teria sido atestado por registros de época e estudos sérios (chegamos cerca de duas dezenas deles, anteriores a 1910). Mais incrível ainda é o fato de ser usado, e há mais séculos, o termo carpere (“arrancar, colher, arranhar”, em latim e italiano). Devemos acreditar que o latim teria influenciado menos a língua portuguesa que uma língua indígena?  

Mais interessante e estarrecedor ainda? Entre informações sugeridas num mesmo dicionário, o de Beaurepaire-Rohan, o Diccionario de Vocabulos Brazileiros (de 1899, o mais remoto registro conhecido), “caipira” ser termo paulista teria agradado, mas “carpir” ter raiz em carpere não teria agradado tanto… De que poderíamos chamar isso? Talvez, “pesquisa seletiva”?

Não sabemos o que é mais difícil acreditar: se durante cerca de 90 anos (entre 1820 e 1910) ninguém antes teria percebido que “caipira” teria algo a ver com “carpir”; como “brotaram letras” em apenas algumas palavras e noutras não; como pira teria variado de seu significado mais observado em tupi, relacionado a “peixe” e cai (que sempre teria existido) teria variado, seletivamente, de seu significado mais observado que seria relacionado com “fogo, queimar” ou, finalmente, se os romanos teriam sido influenciados pela língua indígena, séculos antes da Invasão chamada “descobrimento” do Brasil…

O povo parece achar cômodo aceitar essas possibilidades incríveis todas, ou qualquer uma delas, tanto faz (além de nós, não observamos quem questione publicamente). E estudiosos e famosos seguem defendendo a incrível explicação “etimológica” sem apresentar comprovações de época, naturalmente.

Por brasileiros, a mais remota citação escrita do termo caipira, claramente como um apelido político, inclusive assumido por quem escreveu (que, portanto, não se sentia ofendido pela alcunha), vimos no jornal paulista “O Tamoyo” (12/09/1823, nº 5, p.6).

Numa análise que, curiosamente, os chamados grandes pesquisadores não costumam citar quando tratam deste tema, sequer os ditos historiadores, contextos histórico-sociais apontam que a partir da Revolução de 1820, em Portugal, o regime Constitucional teve rejeições, tendo a primeira revolta (chamada “VilaFrancada”) em 1823. A rejeição teria tido bom número de adeptos até o fim da Guerra dos Dois Irmãos, em 1834. Xingar brasileiros contrários a D. Miguel faria sentido, muito mais com um apelido que remetesse a selvagerias indígenas, lendas de demônios, etc. Só que portugueses nunca falaram tupi, guarani ou língua geral: teriam inventado, pois, apelidos ou “xingos” próximos a nomes indígenas de fato, atestados desde o século XVI: curupira (entidade maligna que viveria nos rincões selvagens, segundo os indígenas) e caapora (indígena que viveria nos mesmos ermos, portanto, os mais selvagens).

Além do já citado Saint-Hilaire, o pesquisador Carl Martius (que também teria convivido, e muito, com os indígenas) apontou fontes e estudos sobre os termos indígenas originais, em seu Glossaria Linguarum Brasiliensium. É bom considerar que Martius escreveu este glossário em latim, português, “tupi” (entre outros dialetos indígenas misturados com a Língua Geral amazônica) e ainda comentários em alemão. Não, ele não era linguista ou etimologista, mas era cientista e sem dúvida entendia de línguas.

Será que precisamos lembrar a diferença que existe entre apontamentos de quem conviveu com indígenas, conhecia e estudava diversas línguas… e pessoas que, embora também estudiosos, não teriam convivido com as línguas, e lançam e/ou defendem teorias convenientes, séculos depois? Se nenhum deles for seu “compadre”, qual acha que teria mais propriedade para publicar sobre o assunto?

Ah, sim, é bom frisar, pois não vimos por aí: caapora teria sido relativo a indígenas, os mais selvagens, não a “qualquer ser humano” que morasse em “qualquer mato”… É bem criativa também este “empréstimo” inventado, muito aceito e repetido, posto que oportuno. A deturpação do sentido constaria, também em mais remoto registro, dentre colocações consideradas agradáveis do já citado dicionário de Beaurepaire-Rohan, de 1899. Linguisticamente? Sem querer ser rudes, mas talvez isto possa ser considerado uma aberração. Uma “forçada de barra” descarada, que precisaria de profunda pesquisa etimológica de dados concretos para ser provada, não apenas a opinião de uma pessoa… e o dicionarista, um militar carioca, não aponta ter estudado línguas indígenas, nem convivido com elas, além de ter lançado interpretações pessoais a maior parte do tempo sem citar fontes, sequer desenvolvimentos concisos. Entretanto, como já destacamos, algumas colocações suas agradam até hoje, e são selecionadas para serem repetidas, sustentadas; outras, como a citação às mesmas conclusões dos dois grandes pesquisadores estrangeiros citados (porém sem citar os nomes deles), parecem não agradar tanto…

Vasculhamos (e disponibilizamos) todas as citações ao termo “caipira” entre 1820 e 1910, não encontrando sequer uma de alguma possível “cultura”, só outros significados. Preconceito? Sim: a partir de 1850 teria iniciado pontualmente, junto ao significado de apelido político, mas não apenas contra pequenos produtores rurais paulistas, como interpretou Pires e dizem “amém” todos que o seguem em “coro cego”.

O contexto histórico-social aponta claramente que o preconceito seria contra toda uma classe proletária, por todo o Brasil chamada pejorativamente de “caipira”, além de outros termos regionais de igual valor, sendo que nenhum dos outros termos é considerado nome de uma “cultura” até hoje. Importante: apesar de sugerido assim em dicionários desde 1889, “caipira” nunca foi termo utilizado apenas em SP… e dezenas de matérias de jornais comprovam isso. Duvidou? Confira gratuitamente, pela internet, o bom acervo da Biblioteca Nacional Digital, e dos jornais Estadão e Folha de São Paulo. Nós conferimos.

É bom lembrar, em tempos de memória histórica tão fraca (ou deturpada, talvez?), que o que chamamos aqui de “proletários” (quer dizer, trabalhadores mais simples, “chão de fábrica”) abrangeria também pretos e até alguns estrangeiros. Em SP, por causa do Ciclo do Café, haveria mais proletários ligados à atividade rural, realmente… Mas o pejorativo não se aplicaria a pequenos produtores. É bom lembrar também que a maioria dos brasileiros seria rural, a divisão de classes estava apenas começando e não faz sentido antes da Revolução Industrial. Pergunte ao seu pesquisador de estimação: mesmo os defensores do caipirismo deveriam confirmar isso, se não for inconveniente por algum motivo.

Imaginar que teria existido uma cultura ancestral “caipira”, que seria uma “raiz” brasileira, é genial, criativo, agradável e lucrativo, mas não se atesta. É incrível, entretanto, que tantos doutores não admitam isso publicamente, e, ao contrário, gostem até de se autodeclarar “caipiras de fato”… Por que?

Consideramos genial a interpretação lançada e defendida arduamente por décadas por Cornélio Pires pelos aspectos como os seguintes:

– com excelente e até precoce visão de “marcas”, teria percebido que “caipira” seria um nome / marca forte, e que passaria facilmente como “original indígena”. Desta forma, poderia alegar ligação com os mais remotos tempos brasileiros, e, portanto, de uma “cultura ancestral”;

– ao recontextualizar um preconceito realmente existente, de que “caipiras” seriam perseguidos e menosprezados, Pires não apenas levantou o moral de uma classe simples, mas também atraiu a simpatia de outros, das demais classes sociais, dada a nobreza da causa. Esta “isca” foi mordida e cuspida fora por um “peixe grande”, o então já grande vendedor de livros Monteiro Lobato, o único além de nós que parece ter percebido a engenhosa estratégia de Cornélio e tentou combatê-la, posto que ameaçava suas vendas de livros. Não, não teria sido por puro preconceito de Lobato, embora eugenista declarado (como se imagina muito), mas por óbvias motivações financeiras. A prova é que Lobato, que chegou a afirmar que “meu Urupês veio estragar o caboclo de Cornélio”, calou-se a partir de quando se tornou sócio de Amadeu Amaral, primo e mentor de Cornélio Pires, em uma editora que então passaria a publicar livros dos dois grandes vendedores. Afinal, “se vende bem, que mal tem?”… e assim o “preconceito” de Lobato teria acabado.

–  Cornélio aponta ter tido plena consciência de que podia lançar sua reinterpretação sem se preocupar com fundamentações científicas, pois suas publicações eram artísticas: no livro As estrambóticas aventuras do Joaquim Bentinho chegou a afirmar que seus registros tinham pretexto de serem “casos e mentiras”, e que lexicógrafos (elaboradores de dicionários) é que deveria “pescar regionalismos de verdade” neles.

– outra grande “sacada” de Pires foi induzir a ligação com o divino, com a religiosidade católica fervorosa brasileira, ao apontar recontextos que remeteriam aos primeiros tempos do Brasil-Colônia, como danças. Neste sentido, colaboram lendas como as do chamado “São Gonçalo”, que além de nunca ter sido santo, mas apenas beato, desde o século XVI é citado via diversas lendas. Pesquisamos alguns relatos sérios sobre a interessante vida de Gonçalo, onde não encontramos nenhuma citação de atividade musical pelo beato, como o famoso Sermão de São Gonçalo, do jesuíta português Antônio Vieira (estimado ao ano de 1690). Entretanto, no Brasil há uma Dança de São Gonçalo praticada não só na época de Pires, mas até os dias atuais: esta dança específica tem registros de ter começado só em 1621, em Portugal, mas no recontexto genial teria sido sugerida como ligada aos primeiro jesuítas por um (!) texto que citava um outro tipo de dança, sem qualquer citação a Gonçalo, realmente registrada por Fernão Cardim em 1584. Em contexto histórico-social “não lembrado” pelos seguidores de Pires, danças similares teriam existido, como celebrações de vitórias em guerras importantes e, especificamente em Portugal e na Espanha, desde a expulsão dos mouros, em 1492. Boa pesquisa histórica sobre danças, sugerimos ler Curt Lange, Danças do período Colonial…   

É genial ou não? Aponta que Cornélio teria plena consciência do que estava a fazer: defender uma “cultura inventada”, perseguida e menosprezada, ajudou muito nas vendas. Ele só talvez nem imaginasse que, com o passar dos anos, tantos outros “compadres” seguiriam suas reinterpretações livres, que agradam muito até hoje, tanto para elevar o moral de quem não gosta de ler, quanto de religiosos, quanto de quem quer faturar com a história.

Prova-se ser boa estratégia para vender livros, aulas, palestras, defender teses em faculdades e até candidaturas, como teria sido o caso de Antônio Cândido, sabia? Foi. E foi por SP, exato quando defendeu seu doutoramento. E utilizou ainda, em soma, outras interpretações lendárias antigas, como a de que os paulistas teriam DNA superior e que os bandeirantes teriam sido grandes heróis. Achamos essa estratégia bem nojenta, mas o fato é que agrada a alguns egos paulistanos desde a década de 1930, então…

É tudo mais ou menos como a história de “Papai Noel”: uma criativa interpretação livre, sustentada e “vendida” por décadas, que agrada a muitos. Apenas uma história, que embora genial, foi criada para alavancar vendas, agradando e sendo multiplicada por afinidades de muitos, principalmente interesses comerciais.

Não é nada ilegal, entretanto, pois somos um país capitalista. E temos liberdade de Credo também, portanto, cada um pode “crer” no que quiser. E é permitido vender muito para quem resolver colocar fé numa boa história. Tudo certo, portanto. E faz sentido, afinal, o caipirismo teria sido criado e sempre foi utilizado para alavancar algum lucro: Cornélio vendeu muitos livros, palestras, apresentações, discos… Antônio Cândido, tentou ser eleito… O estilo chamado “sertanejo universitário”, pegando carona em algumas características, vendeu e ainda vende muito… Inezita tinha um programa de TV para alavancar… Diversos “caipiras” atuais, embora moderníssimos, tem suas aulas de viola, livros, apresentações, palestras e outras coisas para vender.

É bom lembrar que a ideia genial hoje contempla ainda que, para ser “caipira”, basta alegar qualquer ligação com o interior (quem nunca a tem?), ou mesmo só afinidade, e estar-se-ia pronto para começar a faturar e a defender a causa nobre.

Já os que aparentemente não teriam nada “para vender”, faturam em satisfação dos egos, como nobres participantes ou apoiadores de uma “cultura oprimida e que não podem deixar desaparecer”… É estranheza em cima de estranheza: afinal, se é “ancestral”, ou seja, antiquíssima, por que teria chance de sumir? Que raiz rasa seria essa?

Felizes também estariam por não precisarem ler, pesquisar e refletir muito (a tradição oral resolve e, afinal, são diversos “doutores” que defendem). Ler e refletir dá muito trabalho. Também faturam por conseguirem muitos “compadres e comadres”, gente simples, todos “humildes como eles mesmos”, receptivos, amigos, “irmãos caipiras” por praticamente todo o Brasil.

É outra característica da genialidade da ideia, pois realmente pode-se dizer que ainda há pelo Brasil uma classe “interiorana”, pacata, trabalhadora, ligada ao ruralismo, de muito valor, mas com pouco reconhecimento público. Só que antes, esta classe teria sido a esmagadora maioria, assim como a agricultura era desenvolvida, na prática, por escravizados sequestrados da África. E antes, “mais antes”, que seria a verdadeira cultura ancestral, as características eram praticamente todas dos indígenas, que não eram, portanto, “caipiras”, na verdadeira “raiz” histórica brasileira.

Para se fazer parte hoje da classe verdadeira, o faturamento possível é conquistado com muito suor, tem que pegar na enxada de sol a sol, não apenas se autoproclamar “caipira”. Imaginar que o passado teria sido exatamente como o presente é equívoco muito básico, principalmente se apontado por estudiosos, por isso entendemos que não seja simples equívoco, mas que muito provavelmente haja muito de conveniência, de manipulação da verdade nisso.  

Os que ignoram a verdade estão felizes e os que faturam, quer ignorem conscientemente ou não, estão mais felizes ainda… A interpretação tem várias “meias verdades” em paralelo… Está tudo certo legalmente… Então, por que questionar?

Bom, quem estuda um pouco de História e Ciência percebe que a função do pesquisador sempre foi questionar e apontar verdades atestáveis, independentemente de lucros e outros interesses. E não há problema algum em praticar Ciência, afinal, o Natal também é uma história agradável criada e sustentada por milhares: ninguém deixa de faturar se apontamos que, na verdade, o Aniversariante não teria nascido de fato naquela data, e que é estranho que se defenda que todo mundo mereça ganhar presentes se o aniversário é Dele… não é mesmo? Então, sem problemas: podemos relatar o estranho caso do bom velhinho que rouba a cena do Filho do Homem, todo mundo sabe que é um embuste comercial para alavancar vendas e assim segue o andor.

Entende-se, como maior motivação, que o Brasil hoje precisa mais do que nunca de práticas científicas: leitura, estudar e refletir sobre a História, esclarecimentos de equívocos históricos, verdades demonstráveis por dados (e não apontadas apenas por teorias e entendimentos, mesmo que estes sejam sustentados por pessoas importantes).

Nós “temos fé” em dados históricos e pesquisas científicas honestas, e na função histórica da Ciência. Acreditamos que interesses capitalistas, ególatras e corporativistas normalmente costumam ser colocados acima de quase tudo, sobretudo da Ciência, e que podem embotar, mascarar ou até iludir entendimentos. E que a maioria dos brasileiros não tem hábito de ler, não se preocupa em checar fontes e dados, preferindo acreditar em histórias agradáveis, ainda mais se muitos “compadres” também acreditarem.

Quanto mais “compadres” apoiarem, mais “verdade” seria alguma coisa? É o que parece, mas na verdade mesmo não é assim, automático. Muitos podem estar enganados e inocentes (ou quase inocentes) no processo. Estes inocentes principalmente, mas também toda a sociedade, merecem ter a oportunidade de saber. É por isso também dever cívico e moral, além de científico, apontar equívocos e confrontar com verdades atestáveis.

O que vão decidir fazer depois de saberem a verdade, em parte é problema de cada um, mas em parte é problema de toda a sociedade. Além disso, há outros embustes semelhantes por aí, cuja mesma forma de pensar e agir corretamente pode e deve ser aplicada. 

Quando é algo relacionado ao “divino”, mais ainda se deve procurar dados e apontamentos claros pois, afinal, somos um país de fé: de muitas delas… Mas aí já são outras prosas. Muito obrigado por ler até aqui, e vamos proseando…

(João Araújo é músico, produtor, gestor cultural, pesquisador e escritor. Autor do livro A Chave do Baú, do qual elabora aprofundamentos nos Brevis Articulus às terças e quintas nos portais VIOLA VIVA e CASA DOS VIOLEIROS).

Principais fontes, centralizadoras das centenas pesquisadas:

ARAÚJO, João. Linha do Tempo da Viola no Brasil: a consolidação da Família das Violas Brasileiras. 2021. Monografia (Premiação Pesquisas Secult MG / Lei Aldir Blanc). Belo Horizonte: Viola Urbana Produções, 2021.

ARAÚJO, João. A Chave do Baú. Belo Horizonte: Viola Urbana Produções, 2022.

FERREIRA, João de Araújo. Chronology of Violas according to ResearchersRevista da Tulha[S. l.], v. 9, n. 1, p. 152-217, 2023.

Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadatulha/article/view/214286

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