COERÊNCIAS HISTÓRICAS EM INSTRUMENTOS MUSICAIS
Coerências históricas em instrumentos musicais
“[…] instrumentos musicais são artefatos mediadores de relações sociais e percorrem ao longo do tempo carreiras simultaneamente musicais e sociais […] Se não levarmos em conta os cenários sociais das práticas instrumentais e os discursos sobre música, as carreiras dos instrumentos musicais parecerão fortuitas e arbitrárias…”
(Dra. Elizabeth Travassos, no livro Artifícios e Artefactos. Rio de Janeiro: Letras, 2006).
Viola, Saúde e Paz!
Em nossos atrevidos, mas inéditos e muito bem embasados estudos, chegamos a apontar algumas postulações. Estes estudos disponibilizamos em nossa monografia, em artigos científicos, no livro A Chave do Baú e nestes Brevis Articulus semanais aqui, que tratam de aprofundamentos, pois o acervo pesquisado é bem grande, em diversas línguas, sobre toda a História dos cordofones europeus. Algumas destas postulações se somam e se cruzam, completando-se. É o caso de duas que escolhemos destacar hoje: “instrumentos musicais mudariam conforme eventos de comoções sociais significativas, porém, ao mesmo tempo, alguns resquícios históricos tendem a resistir neles por muito tempo”.
A tal História dos cordofones europeus teria seus primeiros indícios na influência dos gregos, que buscamos atestação em fontes de época desde os escritos em latim do século II aC. (Plautos, depois Cícero, Horácio, etc.). O cruzamento que apresentamos aqui é um pouco complexo, já que engloba dados de tantos séculos passados, mas o que constatamos é que, num quadro geral que a princípio poderia aparentar aleatoriedade, observamos coerências históricas. Várias.
Estas atestações de coerência histórica foram observadas em diversos instrumentos musicais, por diversas épocas, procedências e nomes. Mergulharemos aqui em três características históricas de cordofones:
1 – Número de cordas: é apontado normalmente em função de “ordens”, porque cordas montadas bem próximas, acionadas simultaneamente por um mesmo dedo (ou por plectros, que seriam pequenos objetos), seriam afinadas segundo a mesma nota musical. É tão comum que alguns autores confundem “cordas” com o que na verdade seriam “ordens de cordas”, que significa que uma dupla ou trio de cordas teria o mesmo valor de uma corda sozinha, esta dita “singela”. Muitos às vezes se referem a “cordas duplas ou triplas”, mas demonstraria certa falta de acurância (falta de precisão geral no trato da coisa), pois cordas não são como cabelos “de duas pontas”, são individuais; por isso, optamos sempre por apontar que seriam “duplas ou trios de cordas”. Pequenas diferenças, grande cuidado com o tema.
A coerência histórica seria que instrumentos europeus mais antigos apontariam armar em duplas ou trios de cordas, muito provavelmente por influência dos bons instrumentos árabes, mais evoluídos, como a família dos alaúdes (mandura / rebab, alaúde, teorba), que tinham caixa em forma de uma pera cortada ao meio (chamado formato “periforme”), em diferentes tamanhos. Não conhecemos ainda registros seguros sobre os motivos da preferência árabe por duplas de cordas, então preferimos não conjecturar. O fato é que eles teriam sido, e ainda são (!) exatamente assim. Com o passar do tempo, instrumentos europeus, ao contrário, teriam evoluído com caixas cinturadas; e alguns séculos depois passariam a usar cordas singelas, como, e com destaque, a guitarra espanhola moderna, apelidada de “violão” pelos portugueses. Um contexto histórico social aponta que a rejeição aos invasores árabes teria se expressado pela opção de formato de caixa diferente, rejeição cujo mais remoto registro explícito pode ser observado no extenso poema Libro de Buen Amor, de Juan Ruiz (estimado ao século XIV); entretanto, as duplas de cordas resistiriam por mais alguns séculos: em outro formato de caixa também em rejeição aos mouros, o formato arredondado, as duplas de cordas resistem até os dias atuais, como é o caso dos bandolins e guitarras portuguesas. Somente mais tarde outro contexto histórico-social viria apontar a citada mudança para cordas singelas das guitarras, acontecido em paralelo com a evolução das fases da Revolução Industrial (entre os séculos XVIII e XIX). Soma-se ainda o contexto da ascensão espanhola, uma espécie de “império de destaque” no território europeu entre os séculos XV e XVIII, cujas concepções influenciaram significativamente as culturas vizinhas (não à toa apontamos referências ligadas ao território europeu para exemplo).
Por isso, quando hoje vemos sobreviver violas dedilhadas portuguesas e brasileiras com cinco ordens duplas ou de cordas e formato cinturado como as guitarras chamadas barrocas (de entre os séculos XVII e XVIII), enquanto em toda a Europa este tipo de instrumento passou desde o século XIX para seis cordas singelas, podemos identificar que algo teria acontecido especificamente em Portugal: seria o contexto histórico-social da disputa com os espanhóis, expressa por vários capítulos desde o surgimento dos lusitanos como reino independente, lá nos idos do século XII. A própria “guitarra” portuguesa (único instrumento com esta variação de nome que teria caixa arredondada), com suas seis ordens, mas de cordas duplas, aponta a rivalidade, e atesta que instrumentos populares reagem a contextos histórico-sociais, tanto em características organológicas (formatos, cordas, afinações, etc.) quanto em nomes.
A “outra face da moeda” (ou “postulação cruzada”, como chamamos aqui), é que, apesar das mudanças acontecidas por contextos histórico-sociais, algumas características venceram os tempos, que é o caso das afinações em quartas, presentes desde os periformes instrumentos da família dos alaúdes, que passou por cinturadas: guitarras e vihuelas até o século XVI, guitarras barrocas até o século XVIII e contina nos violões e outros cordofones até os dias atuais. Ou seja: mudanças de formato apontam rejeição aos inimigos árabes, mas afinações e número de cordas persistem até hoje.
2 – Evolução do número de cordas pelos tempos: primeiro resumindo as origens dos cordofones, já desde os mais remotos registros escritos e das artes gráficas (desenhos, esculturas, etc.) observa-se que cordofones teriam evoluído a partir de harpas (nome consensual, de mais provável origem egípcia) que seriam, basicamente, estruturas ocas, muitas vezes tubulares ou chifróides, laterais a cordas que seriam presas e esticadas pelas extremidades. Estas harpas viriam a ter também versões “portáteis” (chamadas liras em grego e latim, nabla em hebraico / egípcio); depois, teriam vindo a apresentar caixas de ressonância também ao longo (paralelamente abaixo ou acima) das cordas, chamados hoje psalmorum (“saltério”, em latim). Só depois as liras surgiriam acopladas a caixas de ressonância destacadas das cordas (chelys em grego, testudo em latim), denotando o formato de cascos de tartaruga, muito provavelmente também em concorrência com a tradição árabe de formato de caixas.
Finalmente, depois disso, os cordofones teriam evoluído para instrumentos com braços, e, enquanto os antigos todos preservariam até hoje praticamente as mesmas características, os cordofones com braço se popularizariam. Entende-se que por causa desta popularidade teriam vindo a sofrer várias mudanças contextualizadas histórico-socialmente pelos séculos, principalmente em seus nomes, que mudariam em função de ações nacionalistas de povos que dominariam outros, conforme inclusive já citado aqui (gregos e romanos). Entretando, por outro lado, a tendência de continuidade histórica pode ser apontada nos cordofones com braço: primeiro se observam os de três cordas (como os ancestrais pant-tur sumério, pandur caucasiano, kethara assíria, kithara grega, nefer egipcio e outros), repetindo o que teria acontecido com liras e “saltérios” (cordofones mais ancestrais, sem braços, já citados) para depois irem aumentado em número de cordas, gradualmente. O mesmo tipo de evolução gradual a partir de três cordas (ou ordens) é observado, com o passar dos séculos, em registros históricos de alaúdes, guitarras, violinos e outros.
3 – Resquícios em nomes de instrumentos com braço em diversas línguas, por séculos. Estes são os resquícios nos quais mais nos aprofundamos, por não termos visto antes estudos consistentes neste sentido. Observamos, inclusive, uma tendência de bifurcações de nomes, em diversas línguas, e que refletem contextos histórico-sociais bem observáveis. Desde pan-tur (sumério) e kethara (assírio), aproximadamente 1800 anos antes da Era Cristã, passando por fandur / pandur (em dialetos antigos da região do Cáucaso), continuado em registros em grego (pandura, kithara), depois em latim (pandorion, cithara e outros), para finalmente bifurcações serem observadas durante a evolução histórica de registros nas principais línguas europeias, sucessivamente (como a bifurcação pelas iniciais em “v” ou “f”, entre outras, que já tratamos em outros Brevis Articulus).
Todas estas mudanças coincidem com eventos de grande impacto social, desde os assírios que subjugaram sumérios, depois fenícios comercializando pelo território hoje chamado europeu, até a influência grega, depois romanos, depois Igreja Católica, etc. Nas primeiras páginas do livro A Chave do Baú apontamos um cronograma destes eventos de grande impacto e as alterações acontecidas em instrumentos musicais populares.
Esta parte de nossos estudos, é sempre bom dar crédito, evoluímos consideravelmente a partir da visão pioneira do musicólogo alemão Curt Sachs (Real-Lexikon der Musikinstrumente, de 1913, e The History of Musical Instruments, de 1940). Sachs foi citado em alguns poucos estudos que conferimos durante o processo, mas achamos suficiente para aprofundarmos e buscarmos atestações, além de ir bem mais adiante.
Assim, quando um instrumento muda de nome e/ou de características organológicas significativas (como formatos de caixa), mas mantém outras características (como armação de cordas, afinação, tamanho e outros), caracterizam-se que a alteração teria sido por motivação não técnica (como nacionalismo), vez que para o resultado final da execução musical não haveria muita diferença o formato de caixa. E também caracteriza que, apesar de parecer aleatório, estes dados que são de abrangência popular ainda pouco estudada além de por nós, resquícios muitas vezes podem atravessar séculos, apontando a tendência de continuidade dos instrumentos ao mesmo tempo que apontam, quando há mudanças, as comoções sociais que teriam testemunhado.
Exemplos: a já citada afinação em intervalos de quartas, utilizada em alaúdes há séculos, ainda se mantém em instrumentos de nomes bem diferentes, como guitarras… Só que “guitarra” guarda resquício do antigo nome latino cithara e/ou do grego kithara. Já armações com duplas de cordas (ou “ordens duplas”), também presentes nos antigos alaúdes, são observadas em vários instrumentos europeus de formatos de caixas e nomes diferentes como as vihuelas e depois as chamadas guitarras barrocas, ambas cinturadas e refletindo, em suas origens, rejeição espanhola contra árabes invasores… mas vihuelas guarda resquício do nome latino viola, observado desde o século XII; duplas de cordas ainda sobrevivem, como é o caso das peculiares violas dedilhadas portuguesas e brasileiras, assim como, antes, nos mandolins, agora bandolins (estes últimos, cuja alteração das caixas foi para arredondadas, também diferente das periformes mouras). A constância de variação de nomes, neste caso, sofreu mudança pela rejeição europeia, mas depois seguiu com variações próximas: das manduras árabes, para bandurria, depois bandola, mandola, mandolim, bandolim.
Aliás, a constância organológica e de nomenclatura dos instrumentos árabes com braço, desde aproximadamente o século XIV até os dias atuais, enquanto os instrumentos europeus teriam tido várias modificações, atestam que alguns contextos histórico-sociais apenas os europeus teriam sofrido (em destaque, a natural rejeição aos próprios mouros, visto os europeus terem sido invadidos por eles, que por lá ficaram “de boa” por cerca de sete séculos).
Curioso, mas dentro da mesma observação e como exemplo, é um detalhe da história dos pianos. Estes, na parte interna das caixas, pode-se dizer que seriam como harpas, porém com característica dos antigos dulcimer (espécie de saltério ancestral, tocado por golpes de pequenos objetos, “pequenas pinças”). O sistema atual dos pianos se assemelha mais a pequenos “martelos”, acionados pelas teclas… Entretanto, seus antepassados (cravo, cravicórdio) utilizariam duplas de cordas (!) e seriam tocados por “pequenas pinças”; portanto, os pianos apontam ter evoluído de duplas de cordas para cordas simples, numa mesma coerência histórica acontecida nos cordofones europeus, a partir da guitarra espanhola, no mesmo século XVIII de consolidação dos pianos e em plena Revolução Industrial. Não pode ser coincidência, certo?
Mais interessante (e atestador, embora complexo) são instrumentos que já citamos por aqui algumas vezes, chamados de forma geral organas (que significa, em latim e em grego, apenas “instrumentos musicais”, ou seja, um nome genérico). Já tratamos em alguns Brevis Articulus, mas nunca é demais lembrar o capítulo especial representado por estes instrumentos. A mais remota citação, sumponiah (“sinfonia” em aramaico/hebreu/árabe), seria de um nome de instrumento mais provavelmente de sopro, que dataria possivelmente do século VI aC. vez que é citado no livro de Daniel, na Bíblia, mas já seria um empréstimo de συμφωνία em grego, depois simphonia em latim. Depois, no século VI (Boethius) e no X (no Musica Enchiriadis), “sinfonia” teria sido ligado a harmonia de vozes, diafonia. Depois, ali pelos séculos XI e XII, que é quando se teria conhecimento da mais remota escultura, as organas seriam cordofones grandes com características bem variadas, mas também teriam sido os mais remotos registros de antigas gaitas-de-fole (instrumentos de sopro, com vários tubos e com foles, naturalmente) e que anteriormente já teriam sido ligados ao nome organa. Uma confusão, não?
Juntando numa lista os resquícios das organas e/ou sinfonias pelos séculos: em flautas múltiplas, em instrumentos com foles, em cordofones (dedilhados e friccionados), teclados, manivelas… Ah, sim, o mais óbvio pelo nome, organum ou organa ligaria ao nome “órgão”, os modernos com teclados e até eletrônicos… mas lembrando que órgãos ancestrais teriam tido tubos, ou seja, as teclas acionariam sistemas pneumáticos. Por isso é possível entender porque o nome “sanfona” teria vindo de “sinfonia”, mas o instrumento hoje teria fole e teclas.
E porque o nome “viola” foi cair para instrumentos cinturados? Ora… organas eram cinturadas, e acionadas por uma roda. Como outros instrumentos, eram chamados também sambuca (um tipo ancestral de sabugueiro, utilizado como material desde as liras antigas), daí, sambuca rotata (“sambuca de roda”), depois vielle a roue (“viola de roda”, em francês”) e viola de roda em catalão… Depois, a roda (e as teclas, e a manivela) caíram de uso, o tamanho diminui e só restou… a “viola”: um cinturado com cordas!
Há alegações até a hydraulos, instrumentos movidos a água e ar, bem ancestrais, mas aí entendemos ser equívoco: só poderiam ser ligados a organas (como observamos registro no século IX, por Aurelianus Reomensis) se considerar organa como nome genérico, “qualquer instrumento musical”. Muito apontam isso até hoje, mas hydraulos não eram “órgãos”, teria faltado estudar as origens e evoluções do nome “órgão” a partir de organa / organum, que enganam se não for observado o global da História.
Por último, incluímos por nossa conta e esforço de pesquisa o nome “harmônica”, que remete a “harmonia, sinfonia” e à “gaita” (no caso, “gaita de boca”). Gaita, do árabe alghaita, seria “palha” ou “palheta”; palhetas que seriam as divisões e pequenos objetos (plectros), tanto das gaitas quanto das sanfonas, quando de instrumentos de sopro, quanto em cordofones antigos como saltérios (sem braço) até cordofones atuais, como as famosas palhetas das guitarras elétricas… Opa! Já achamos um pequeno elemento comum a vários instrumentos bem diferentes, de várias épocas… mas há outro elemento comum mais importante. É só seguir lendo.
Tratamos aqui de características organológicas muito diferentes, certo? Em alguns casos, os nomes apontam relação, em outros, não: pelos séculos estas relações às vezes foram se perdendo, mas durante muito tempo mantiveram ligação clara. Aparentemente, não teriam nada totalmente em comum, certo?
Atestamos, entretanto, que desde os mais remotos registros conhecidos das “sinfonias” e depois das “organas”, os instrumentos indicam emitir mais de uma nota ao mesmo tempo. Este tipo de sonoridade, inclusive, sempre pôde ser identificado por qualquer pessoa, sem que precisasse ser muito conhecedor de música. E muitos não-especialistas em instrumentos musicais antigos registraram narrativas sobre eles, dando os nomes que entendiam ser mais adequados.
No caso das organas com cordas (as tais do século XI) e as gaitas-de-fole e até algumas flautas múltiplas, uma característica comum a mais é que apenas um dos sons apresentariam variações de notas, enquanto os demais (cordas e sopros) soariam soltos, nas notas originais, fixas. A sonoridade é bem típica, nestes casos.
De qualquer forma, percebeu a continuidade, mesmo com a pulverização de formatos, tipos e nomes diferentes? Os instrumentos antigos, mesmo com diferentes formatos, maneiras de tocar e/ou de nomes, seriam instrumentos capazes de emitir “sinfonias”, ou seja, mais de uma nota musical ao mesmo tempo. São hoje chamados “instrumentos de harmonia”, ou “harmônicos”. Esta característica agrega também o conceito teórico muito estudado até hoje, de organum como “harmonia de vozes, sinfonia, diafonia”, ou seja, “mais de uma voz ou som ao mesmo tempo sendo emitida”. Entendemos que não pode ser coincidência.
Ainda um adendo final, sobre alterações de significados de nomes pelos tempos, em diversas línguas: o mais remoto nome observado, sumponiah em aramaico, aponta ter sido o nome de um instrumento, num empréstimo do grego symphonia (este onde sym seria algo próximo a “inclusão, aumento, soma” e phonia “vozes, sons”). A partir daquele nome em aramaico / grego, pelas diversas circunstâncias, teríamos chegado hoje ao significado de “sinfonia”, mais abrangente, em várias línguas ocidentais, assim como influências em vários nomes de instrumentos musicais (como em “sanfona”). Algumas vezes a consolidação de um nome altera significados anteriores, até por equívocos repetidos por vários séculos, que nunca teriam sido questionados, pesquisados corretamente e corrigidos.
Um exemplo que observamos, mas não vimos em outros estudos, é chamar antigos saltérios de “cítaras”: saltérios seriam cordofones sem braços, e cítara, conforme já descrevemos, viria de nomes de cordofones já com braço (kethara-kithara-cithara). Consideramos equivocado e prejudicial aplicar nomes mais modernos e/ou traduções a instrumentos antigos, mas, neste caso, a consolidação parece tentar corrigir entendimentos equivocados, pois durante séculos se observa a confusão entre “cítaras”, até por linguistas (como dicionaristas, “lexicógrafos”). Cítara, hoje, é convencionalmente nome de instrumentos sem braços, mas o mais correto seria de ser apontado para instrumentos com braço. Há outros exemplos similares, fazer o quê? Paciência.
Mas é ou não é interessante? Pirou sua cabeça também? O nome organa era um genérico, espalhou-se por instrumentos diferentes, aqui e ali com resquícios históricos atestáveis (conforme nossa postulação, de que a história dos instrumentos aponta coerências e constâncias, inclusive nos nomes). Teria alguma lógica e seria possível dissecar as confusões feitas por narradores antigos, que teriam observado pontualmente algumas características, mas sem visualizar o todo, o geral da História. E hoje, podemos “amarrar tudo” comparando várias histórias de instrumentos, que atestamos teriam sido também mudanças por contextos histórico-sociais, mas mantendo alguns resquícios… Só que aí são outras prosas!
Muito obrigado por ter lido até aqui, e vamos proseando…
(João Araújo é músico, produtor, gestor cultural, pesquisador e escritor. Autor do livro A Chave do Baú, do qual elabora aprofundamentos às terças e quintas nos portais VIOLA VIVA e CASA DOS VIOLEIROS).
Principais fontes, centralizadoras das centenas pesquisadas:
ARAÚJO, João. Linha do Tempo da Viola no Brasil: a consolidação da Família das Violas Brasileiras. 2021. Monografia (Premiação Pesquisas Secult MG – Lei Aldir Blanc). Belo Horizonte: Viola Urbana Produções, 2021.
ARAÚJO, João. A Chave do Baú. Belo Horizonte: Viola Urbana Produções, 2022.
FERREIRA, João de Araújo. Chronology of Violas according to Researchers. Revista da Tulha, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 152-217, 2023.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistadatulha/article/view/214286